23 de dezembro de 2010

QUAL SERÁ O CAMINHO?

Símbolo de poder, de modernidade e de cultura, a mídia sempre foi um negócio rendoso e cobiçado nos quatro cantos do mundo. Foi assim desde que Gutenberg inventou a prensa. E antes de se tornar a que conhecemos hoje, a mídia era o conjunto de forças de uma aldeia, ou cidade-estado que dominava a informação. A mensagem era algo tão importante para o Rei que o portador pagava com a vida para que sua majestade ficasse segura de que o segredo não vazaria. Fora dele a mídia era representada pela Igreja que no confessionário auscultava o pensamento da população e no altar disseminava sua mensagem, tal como um aplicativo de iPhone hoje em dia. Quando surge a velha mídia, ela detona com todos esses poderes estabelecidos já que a informação ficava mais democrática, mais acessível e disseminada com mais rapidez e mais amplitude. E o século XX coroa a expansão dos meios de comunicação de massa, ao mesmo tempo em que declinava o poder da Igreja e dos mensageiros da esperança. O único meio de poder que se mantém inabalável, dos velhos tempos, é o banco da universidade. Esse ninguém destrona, nem mesmo a internet.
Mas se a mídia é um poder, a informação é um direito. Mídia e Meio são a mesma coisa. A segunda é plural latino de medium. Meios de comunicação é o conjunto de tecnologias de informação usado na comunicação de massa com conteúdo padronizado. Tecnologia e plataformas específicas sustentam-se em duas premissas: mão única, poucos transmitem e muitos recebem, produção centralizada e dirigida, distribuídas por jornais, rádios, revistas e TVs. Na mão de poucos, esse poder rivaliza com o Estado, com as armas e com o capital. Se a ele se junta um dos três... pronto, é o mais perfeito dos mundos, para quem controla. E assim foi e ainda é. Tanto é que todos os órgãos da velha mídia que estão a caminho da falência encontram sempre um milionário pelo caminho disposto a desembolsar alguns bilhões de dólares para mantê-los de pé. E não o fazem por amor à comunicação e disseminação de informação. O fazem para agregar valor aos seus negócios, principalmente frente aos Estados. Assim é aqui no Brasil, vide os casos do Jornal do Brasil, Gazeta Mercantil e O Dia. Assim é na França onde os periódicos a caminho da cova estão, hoje, em mãos de grupos empresarias fortes como de armas e finanças. E assim é nos Estados Unidos e na Espanha. Tem sempre um milionário se habilitando e incorporando um órgão de mídia. Até mesmo o New York Times entrou na dança. A razão, como já vimos, é única. Mas os interesses são múltiplos. Mesmo com pouca tiragem ou audiência, a capacidade de influenciar o resultado de conflitos sociais, eleições, guerras e de condicionar hábitos de consumo, faz com que qualquer homem de poder queira agregar ao seu negócio um ramo de mídia. É o meio de comunicação que irá torná-lo mais poderoso e intimidador. E assim a velha mídia vem sendo usada ao redor do mundo e tendo como inimigo o Estado. Acossado pela avalanche de opinião suscitada pela propagação da informação quando a imprensa é livre, o Estado prefere, muita vezes, ter esses órgãos de comunicação nas mãos dos poderosos senhores de indústrias e bancos. Com estes as negociações se dão na mesa em torno de interesses individuais ou de grupos econômicos, com os outros, frequentemente, em torno de interesses coletivos que por vezes abalam a popularidade dos governantes. Vide o caso do jornal El Clarin, na Argentina. O governo da Presidente Kirchner luta com todas as suas forças para destruir o grupo econômico da família que controla o jornal. Tudo porque a linha editorial não é favorável ao governo atual. Por isso resta ao Estado poucas alternativas. Como não pode estatizar nos países democráticos está buscando o que agora é chamado de REGULAÇÃO. Inspirados por uma tal CONFECON, Conferência Nacional de Comunicação, promovida pelo governo federal e realizada em São Paulo em 2009, dela originou-se uma decisão plenária da criação de Conselhos Estaduais e Municipais de Comunicação. E assim o Ceará foi o primeiro estado a criar o seu. Uma lei baseada num projeto apresentado pela Deputada Estadual Rachel Marques, do PT, foi aprovada na Assembléia Legislativa, sob a discreta satisfação do Governador Cid Gomes (PDT) que vive às turras com a Imprensa. Esse Conselho Estadual chama para si a fiscalização das licenças de rádios e TVs, concessões do governo federal. Prevê também que as verbas de publicidade do governo estadual deixarão de ser aplicadas de acordo com critérios técnicos. A maioria dos representantes que comporão o tal Conselho serão indicados pelos “movimentos sociais”. E mais, o projeto foi aprovado com o apoio do Sindicato dos Jornalistas. E agora na lista já estão seis outros estados, inclusive São Paulo, a caminho de receberem de presente de suas assembléias legislativas o projeto algoz da mídia. E outra enxurrada de Conselhos está sendo esperada nas Câmaras de Vereadores pelo país afora. No fundo esse projeto nada mais é que as mãos do Executivo e suas ramificações em cima da mesa das redações, ou na linguagem moderna, dos produtores de conteúdo. O certo é que essa avalanche de controle vai apressar as mudanças que assolam a velha mídia. Ela não será a mesma depois disso. E no meio desse turbilhão está a Internet. E para ela também o governo Lula gestou uma regulação cujo projeto ficará para o próximo. É uma salada indigesta. Vai de controle de conteúdo ao de capital e tem o apoio dos barões da velha mídia. Um estrangeiro jamais entenderá esse baião de dois. Diferente de tudo que já se viu e se conhece, ela é uma mídia de bolso. Destruiu os oligopólios de opinião e poder ao possibilitar a distribuição e disseminação dos conteúdos a preço grátis. O mundo, no século XX, levou 50 anos para instalar 2,5 milhões de telex. Levou dez anos para instalar 50 milhões de fax e em 15 anos apenas o computador se fez presente na vida de 2,5 bilhões de pessoas em todo o globo. E logo, em cada casa, em cada canto do mundo, teremos um computador. Só mesmo a TV conseguiu ir tão longe. Mais que a TV, ela é informação, disponível a qualquer hora, em qualquer lugar e de graça. Ela é quem melhor sintetiza o jornalista. É o jornalismo sem a arrogância do jornalista. Sua engenharia constitui a lei básica de uma sociedade de tecnologia de informação. Não há lugar para pretensos interesses públicos se esconderem atrás de informações manuseadas em proteção de interesses políticos ou econômicos. São desmascarados na hora. É na internet que o jornalismo encontra sua plataforma aberta de participação no interesse público sem interferências. Estamos dando os primeiros passos, e como são fortes, a velha mídia não resiste. Mas isso ainda não é nada. Enquanto a internet não tiver o modelo de negócio estruturado, adaptado e desenvolvido para financiar o jornalismo on-line, sua concepção não estará pronta. O modelo de criação dos aplicativos fechados para as plataformas exclusivas, tais como iTunes, Amazon ou iPad e iPhone na realidade é uma tentativa clara dos senhores poderosos da mídia digital de se tornarem os novos barões da informação tal qual foram os barões da velha mídia. Custa crer que isso seja possível num mundo disseminado e independente quanto o que habita a rede. ALELUIA, HILDEBERTO É JORNALISTA

20 de dezembro de 2010

DE CABEÇA PRA BAIXO

Publicado noPortal da annaramalho.com.br
Sex, 07 de Janeiro de 2011 15:15

Por Aleluia, Hildeberto

Diante da queda de receita e preocupados com o futuro, jornais impressos americanos seguem os passos da TV e das revistas oferecendo garantias de vendas aos anunciantes de produtos de varejo. A proposta garante um retorno mínimo ao anunciante. Se uma sequência de anúncios não levar a um aumento de pelo menos 10 por cento nas vendas do produto anunciado, o anúncio sairá de graça. São os efeitos da internet. Até aqui ela vinha causando baixas localizadas em setores específicos. Destruiu a indústria do disco e do CD como nós a conhecíamos. Depois infringiu golpes de morte aos estúdios de Hollywood. Os muitos que não faliram estão em concordata. Varreu o negócio das agências de viagens ao permitir a criação de um novo modelo de negócio para a venda de passagens aéreas e diárias de hotéis. Transformou o comércio eletrônico, o B2B (Business-to-Business), num negócio de números astronômicos. Em seguida partiu para cima da velha mídia e agora desfere um tiro de canhão no modelo de negócio erigido a partir das agências de publicidade. Porém, o mais incrível de tudo isso é que a internet ainda não conseguiu tornar lucrativos os negócios da publicidade online. O faturamento dos grandes grupos de mídia, seja aqui no Brasil, na América, na Europa ou na Ásia, segue o mesmo modelo. A área de publicidade online não consegue ultrapassar 20 por cento do faturamento global dos grupos. Seja nas Organizações Globo, no Grupo Folha ou na multinacional News Corporation, do Murdoch. O dilema é igual. As empresas de investimentos de capital para empreendimentos na internet, nos Estados Unidos, desde 2004 investiram 5, 1 bilhões de dólares em 828 empresas estreantes na internet. A maioria delas tinha a publicidade como sustentáculo do negócio. Não se sustentaram. Nenhuma, aliás. Agora o foco volta-se para aquelas que tenham pelo menos mais de duas fontes de receita, além da publicidade online. Mas as dificuldades permanecem e a pergunta que não quer calar: como criar um negócio lucrativo na internet? Tem que rebolar, tanto aqui como por aí pelo mundo. Exemplo significativo está em Nova York com o site OPEN TABLE, de reservas para restaurantes. Ele fatura com a venda de seu software a restaurantes cobrando um dólar por lugar reservado. No mês de setembro de 2009 a empresa se tornou a primeira a ser financiada com a abertura de seu capital em bolsa nos últimos dois anos, depois do estouro da bolha. A oferta pública foi um sucesso. Dois dias após o lançamento as ações já estavam sendo oferecidas há um pouco mais de 20 de dólares, 43 por cento acima das estimativas originais do preço imaginado pelo banco de investimento que realizou o lançamento. Dois dias após as ações da companhia já batiam a casa dos 28 dólares por ação. E sem nenhuma publicidade online. O modelo que faz a prosperidade da velha mídia não serve, absolutamente, para a nova mídia. Esta situação levou um executivo do grupo Wetpaint, de vendas de serviços pela internet, a observar, desolado: O mercado de publicidade online parecia destinado a ser a luz mais brilhante na paisagem, mas até mesmo essa luz perdeu o brilho.
A publicidade não paga os custos da empresa dele o que o obrigou a cobrar de seus grandes clientes, como HBO e a FOX, um honorário adicional por serviços como promoção e moderação de fóruns de leitores. É uma clara tentativa de inventar um modelo já que falharam as iniciativas de vendas de assinaturas de acessos. Se ainda restam dúvidas, lembro aqui os sites como FACEBOOK e ORKUT que apesar do sucesso ainda não possuem um modelo de publicidade online. O único que possui seu modelo, testado e aprovado, no mundo digital, até agora, é o Google. Para David Sze, sócio da Greylock Partners, empresa de capital para investimentos no mundo digital, “a maioria dos planos de negócios se baseavam em publicidade como fonte de faturamento e de repente o mundo inteiro decidiu que produtos virtuais ou assinaturas deveriam ser parte do mundo”. O modelo de assinatura ruiu, o da publicidade não emplaca e novas alternativas estão sendo testadas. No começo deste ano de 2010 o indiano-americano Pankaj Shah criou a revista TONIC, online. Decidiu dispensar a publicidade de sua receita. A revista publica artigos sobre temas exclusivos e vende produtos como camisetas de algodão orgânico da marca Donna Karan, por 65 dólares, entre outros. Com propriedade observa ele que “vender uma camiseta por 65 dólares ou uma pulseira por 45 equivale a muitas e muitas visitas a um anúncio de Ciallis”. Está nadando no mar de incertezas que cerca os negócios na Net. E o mais incrível é que de ano para ano aumenta o volume das verbas dos anunciantes destinadas à publicidade online. As mudanças necessárias para o novo modelo, na opinião de alguns profissionais do ramo, estão num novo desenho das agências de publicidade. Talvez uma das respostas esteja na frase do executivo americano Barry Wacksman, vice-presidente da agência R/GA do grupo Interpublic, um dos maiores do mundo:
- Entreter, prestar serviço, facilitar a troca de informação sobre a marca, há várias formas de estabelecer pontos de contato com o consumidor.
Aleluia, Hildeberto é jornalista

16 de novembro de 2010

PARA LER E PENSAR

Agência Rio de Notícias
23/12/2010

CONFIRA A NOVA COLUNA DE ALELUIA HILDEBERTO
PARA LER E PENSAR
23/12/2010
Quem já parou de frente para uma banca de jornal e olhou detalhadamente nos títulos de revistas exibidos sabe que o setor campeão é o de moda. A quantidade de revistas de modas, e comportamento, é impressionante. É um claro sinal de que este mercado é promissor e ativo. Mas o que muitos não sabem é que as revistas vêm perdendo seu posto de principal veículo divulgador da moda. A exemplo do que ocorre nos Estados Unidos, o setor fashion já descobriu o novo filão de divulgação dos seus produtos: a blogosfera. Levantamento realizado pela revista Vogue Paris dá conta de 45 blogs de moda como o novo formador de opinião nesta área, feminina, que movimenta bilhões de dólares por ano aqui no Brasil. Somente a empresa YES, cosméticos, tem parceria e patrocínio com mais de 200 blogueiras, sendo que o principal é o blog www.garotasestupidas.com.br. Este tem algo como 65 mil visitas por dia. Se somarmos a quantidade de visitas, mensais, somente a este blog, o total bate a tiragem de todas as revistas de moda do Brasil. E o mais incrível de tudo isso, as blogueiras são amadoras. Além do blog Garotas Estúpidas, cuja titular é uma jovem pernambucana de 23 anos que vive em Recife, três outras blogueiras desfrutam de sucesso estrondoso na internet com um número de acessos diários variando entre 20 e 50 mil cliques. Joana Argenta tem 14 anos de idade e se inspira em sua congênere americana da mesma idade, Tavi Gevinson. Não vai a shoppings nem a desfile de modas, mas é uma campeã na hora de oferecer dicas de moda, beleza e estilo em seu blog www.poderosasegirlies.blogspot.com. Mora no interior do Rio Grande do Sul, numa cidade chamada São Sepé, de 25 mil habitantes. De lá fala para 40 mil pessoas todos os dias em todo o Brasil. Ainda nessa faixa de público temos a Mariah Bernardes Maia de Araçatuba, interior de São Paulo com o blog www.blogdamariah.com.br. Completa o grupo duas jornalistas de São Paulo, capital, Lelê Saddi do blog www.blogdalelesaddi.glamurama.uol.com.br e a Helô Gomes com o blog www.sanduichedealgodao.com.br.
Estas quatro moças falam para mais de 150 mil pessoas diariamente. Sozinhas, sabe-se lá como, pesquisam, produzem, copiam, desenham, colam e mostram na telinha o que faz o mundo em matéria de moda. O custo de produção é irrisório se comparado a uma página de fotos de uma revista de moda qualquer que venda 20 mil exemplares/mês. Esses blogs estão cheios de anúncios e algumas delas declaram que não aceitam todos que desejam lá anunciar. Considera que é muita responsabilidade fazer indicações de compra e uso e só indica o que usa. Não se pode afirmar que elas tenham um modelo de negócio estruturado e acabado para a internet. Mas pode-se olhar, pesquisar, estudar e ficar de olho nesse exemplo. Até aqui tudo indica que esse será um dos caminhos, do futuro, para os produtos que irão substituir a velha mídia.
ALELUIA, HILDEBERTO É JORNALISTA

10 de novembro de 2010

O FURACÃO DIGITAL ASSOLA A MÍDIA

artigo publicado na coluna claudiohumberto.com.br

Sábado, 11 de dezembro de 2010
O FURACÃO DIGITAL ASSOLA A MÍDIA
Por  Aleluia Hildeberto

No mês de julho de 2010 estive em Miami para uma temporada de quatro dias a trabalho. Fui alojado num Holiday Inn, um daqueles hotéis imensos e bem americanos, com corredores longos e uma infinidade de apartamentos por andar. Quando vi a reserva ainda aqui no Brasil julguei que houvera engano, pois o bairro do hotel chamava-se Hollywood e eu pensava que Hollywood só em Los Angeles. Mas é que Miami também tem a sua hollywood.
Todos os dias observava em frente ao elevador, no final do corredor, duas pilhas de mais de um metro de altura. Eram exemplares do jornal US Today, o diário mais vendido na América, com uma tiragem superior a dois milhões de exemplares/dia. Eu saia pela manhã e lá estava a pilha. Voltava no final da tarde ou à noitinha e ela lá continuava. No final de minha estada indaguei aos funcionários do hotel. Disseram-me que todos os dias era assim, ninguém pegava nenhum exemplar do jornal. Afirmaram-me que no começo os empregados do jornal voltavam no final da tarde para pegar as sobras, mas ultimamente nem isso faziam. O próprio hotel cuidava de jogar fora o jornal refugado.
No avião, na hora do voo, em território americano, na sala que antecede o embarque na aeronave esse que vos escreve era o único dos presentes com um livro na mão. Todos os outros passageiros ou estavam com o seu iPad, Kindle ou seu e-book. É uma clara indicação de que o livro, tal qual como o conhecemos, vive também sua odisséia.
Já vimos aqui diversas radiografias do setor midiático americano. Todas estão maculadas quando se trata de olhar o futuro da velha mídia. Mas não é só nos Estados Unidos. Na Europa, na Ásia e por aqui, entre nós também. Alguns aspectos são comprometedores e globais mesmo. Como exemplo a perda de audiência pela TV e a crise dos veículos impressos em função de tiragens cada vez menores são sintomas explícitos. O modelo de negócio dos veículos impressos é uma espiral de problemas que parece não ter mais fim, a começar pela perda de leitores nas assinaturas e nas bancas. Com isso, foge o anunciante privado e na ausência desse cai o faturamento. Em paralelo, cresce verticalmente o número de leitores da versão online dos impressos. Mas muito poucos querem pagar pelo acesso. E nos quatros cantos do mundo, o número de leitores virtuais são centenas de milhões de vezes maior do que o de leitores dos impressos. Sem contar que uma grande maioria dos impressos produz um tipo de conteúdo muito igual e na WEB o sucesso está para aqueles que investem na diferenciação.
Algumas coisas estão claras: cobrar pelo acesso não se mostrou produtivo, mas sem a rentabilidade não dá para se manter na rede. E este modelo ainda não foi encontrado. Todas as experiências tentadas até aqui passam pela combinação com o modelo online, e, neste modelo, investem em várias alternativas, desde acordos com sites de vendas de mercadorias até sites de leitura para que paguem pelo conteúdo usado. Custa crer que vingue este modelo. Quando se comparam os custos de produção dos impressos e sua pirâmide de rentabilidade em seu modelo atual, não dá para imaginar um futuro promissor na WEB. Não há como transferir para a rede o modelo de negócio que deu aos controladores das empresas que produzem impressos muito poder, dinheiro e prestígio. A verdade é que a indústria americana de revistas e jornais impressos está se despedindo dos bons tempos.
E para quem não acredita nesta hipótese, é bom dar uma olhada no mundo da moda nos Estados Unidos. Já não são as TVs, nem as revistas e jornais os mais desejados nos desfiles de lançamentos de moda. E nem tão pouco seus colunistas e paparazzi famosos. As coisas já mudaram no exclusivo mundo fashion. Os personagens mais queridos e requisitados agora são os blogueiros. Em setembro passado, na última semana de moda de Nova York, foram eles que deram o tom na cobertura. Sentados na primeira fila dos desfiles estavam blogueiros de todos os cantos do mundo, desde os das Filipinas até uma americanazinha de apenas 13 anos de idade, chamada Tavi Gevinson que faz o maior sucesso na blogosfera da moda. E o mais cruel, são amadores.
Como não existe um modelo de negócio acabado para a WEB, cada um faz o seu. Ou nem faz. Senta e escreve. Senta e transfere para o computador as fotos da câmera. Sem compromisso com nada. E os custos? Bem, os custos não dão nem para comparar com os outros veículos. Fica difícil de entender esse mundo novo quando paramos para olhar os dados e os números do programa CQC da TV Bandeirantes, por exemplo. Na TV o programa não lidera a audiência, muito embora venha crescendo em público e prestígio comercial. Mas na Internet os oito integrantes do CQC são um arraso. Juntos eles batem a marca de seis milhões de seguidores no Twitter. Isso é mais que a tiragem diária de todos os grandes jornais brasileiros. O líder, no Twitter é o Rafinha Bastos com 1.459.117 seguidores.
Mas a questão é única. Se na TV é fácil e rápido traduzir a audiência em faturamento, pois seu modelo de negócio está pronto, testado e acabado, como fazer dinheiro com essa multidão que os seguem no Twitter? Ainda não sabemos.

20 de outubro de 2010

A ORDEM ESTABELECIDA ESTÁ SENDO BOMBARDEADA

publicado na coluna claudiohumberto.com.br
em  22/11/2010
16:28

Por Aleluia Hildeberto

Toda vez que tentamos substituir uma ordem estabelecida, a confusão é geral; tanto no sistema operacional de uma indústria quanto num sistema de distribuição e logística. Pode ser num sistema operacional de trânsito urbano ou até mesmo numa rotina doméstica. Não é fácil destruir a velha ordem estabelecida e substituir por uma nova. Normalmente isso se dá por saturação, por expansão, por novas conquistas, por conturbação e exigências (no caso de países muitas vezes pelas armas, ou pelo voto) ou simplesmente por inovação.
Em qualquer meio, quando isso acontece, trata-se de uma revolução. Toda revolução vem para substituir a ordem institucional vigente por uma nova. Dá muito mais trabalho substituir uma ordem estabelecida do que implantar uma ordem onde não existe nenhuma. Pela ordenação natural das coisas reformar uma velha ordem seria mais fácil que substituir a existente.
Nenhuma dessas premissas foi observada com o aparecimento da Internet. Ela surgiu do nada, como uma inovação tecnológica facilitando tudo que existia em nossas vidas. Apaziguou e se inseriu em todas as ordens existentes, tornando tudo mais fácil no nosso dia a dia. Mas no que diz respeito à velha mídia, ela surgiu como um furacão ensandecido sobre uma velha ordem confortável e estabelecida por mais de um século de existência. E pelo desenrolar dos acontecimentos até aqui, ela não deixará pedra sobre pedra no mundo da velha mídia. Onde não havia nada, com a sua criação estabeleceu-se uma ordem vigente.
Nenhuma biblioteca do mundo cobra para se fazer uma consulta. Em qualquer lugar o acesso ao livro é fácil e gratuito. Normalmente as bibliotecas são mantidas por instituições civis, por governos (universidades e escolas) ou empresas. Antes da internet para se chegar à biblioteca era necessária uma viagem, um deslocamento qualquer, ou mesmo uma simples caminhada. Depois vinha a burocracia para o acesso e só então você estaria diante das prateleiras, onde finalmente iria encontrar o livro desejado. Era assim. Com o advento da internet você passou a ter todas as bibliotecas do mundo em casa, sem burocracia, sem deslocamento e sem nenhum custo . Todas as versões e todas as edições do livro procurado estarão em suas mãos em questão de minutos, em todas as línguas, e de graça. E mais, as informações buscadas também estarão ao seu dispor, hierarquizadas, filtradas e enriquecidas num sistema de armazenamento fácil e descomplicado que nenhum livreiro ou bibliotecário jamais poderia imaginar no sistema WIKIPEDIA. E você ainda pode contribuir para o assunto com o que recolheu nos livros buscados. Toda a sabedoria do homem em suas mãos em questão de minutos.
Nesse caso, ela não destruiu a ordem vigente. Apenas hierarquizou e facilitou o acesso. Contribuiu com a inovação para reformar essa ordem vigente, tornando mais abrangente o convívio e mais leve a tarefa. Bom para todo mundo. Mas só sabe disso quem realiza pesquisas constantemente, quem leciona e quem pratica o jornalismo.
Mas quando se trata de meios jornalísticos, de venda de informação através de órgãos de mídia o arraso tem a força de um tsunami. A velha ordem está se destroçando cada vez mais a cada dia que passa. Há quem veja sinais de convergência nos vários tipos de mídia com a internet. E de fato existem exemplos aqui e acolá. Mas nada muito sólido, capaz de assegurar num futuro próximo, médio ou longínquo a sobrevivência de algum ramo da velha mídia tal qual a conhecemos hoje. O jornalismo praticado na internet pegou toda a velha mídia no contrapé. Quando ela surgiu, jornais, revistas e TV buscavam uma nova roupagem para a informação. Triunfava o modelo que privilegiava a opinião emitida pelos profissionais do jornalismo, muitas vezes em detrimento da própria informação e desconsiderando o tempo, o valor e a avaliação do ouvinte ou leitor.
Como a internet é um colosso midiático de bolso, estratificada, facilmente ela invadiu as fronteiras dos oligopólios e tornou desnecessários os investimentos financeiros pesados para transmissão de notícias. Incluiu o escutar e responder na pauta do jornalismo e tirou o leitor, ouvinte, telespectador da posição passiva. Em sua agonia, a velha mídia tem no seu encalço não só a nova plataforma, mas principalmente os governos. É cada vez maior o interesse e criatividade destes em aprimorar mecanismos destinados a controlar a velha mídia a socorrer com gordas verbas publicitárias, mas não consegue estabelecer um nível de convivência satisfatório. Eles vivem às turras. Por mais alinhado que seja um órgão da velha mídia, os governos nunca se dão por satisfeitos.
Então, a velha mídia, perdida, desnorteada e acuada, perde leitores, ouvintes e telespectadores. Aqui por perto de nós olhem para Argentina, Equador, Venezuela, Colômbia, Bolívia e alhures. Isso acontece, principalmente, por uma razão curiosa. Estes novos governos não mais se estabelecem por razões pragmáticas e não cultivam a passagem natural do poder em rotatividade professada pelo sistema democrático. Embora democráticos do ponto de vista eleitoral, esses governos modernos desejam a perpetuação no poder e pautam suas administrações e popularidade administrando a informação e contra informação, e usando a velha mídia como veículos parceiros, emissores de suas políticas. Cultivam a popularidade administrando a guerra psicológica da informação, desinformação e contra informação, princípios básicos dos aparatos das agências de inteligência, em cuja cartilha se inspiram e se orientam.
Trata-se de uma versão moderna da forma maquiavélica de exercer o poder. E assim, em comunhão com as mídias, manejam a opinião pública com eficiência e destreza. Despreparada para esses novos tempos e dependente das verbas publicitárias, a velha mídia não questiona e veste como jornalismo toda a ação de qualquer governo em busca de popularidade. Quando um jornal, revista e quase nunca a TV, erra o paço dessa dança, desanda o caixa e tremem os alicerces de seus negócios. E governos têm uma série de instrumentos, além do dinheiro para buscarem alinhamento.
Essa técnica de divulgação nasceu depois da Segunda Guerra Mundial com a Guerra Fria. Alinhados em blocos ideológicos, nos bastidores, o mundo assistia ao embate da guerra de informação forjada pelas agências de inteligência. A mídia acompanhava livremente esse embate, e frequentemente desmascarava tanto um lado quanto o outro. Com a nova ordem política mundial imposta pelo fim do muro de Berlim e a bonança econômica proporcionada pela civilização do petróleo e do consumo, os partidos e os políticos, ou mesmo revolucionários como Hugo Chaves, sacaram a brecha por onde poderiam entronizar a permanência no poder, direta ou indiretamente. Isso começou na Europa Ocidental e só depois, muito depois aportou aqui nos trópicos.
Mas esse desejo desenfreado de manejar a opinião pública via velha mídia tem seu preço e asfixia os veículos com o contínuo desinteresse despertado pelas ações governamentais estampadas com assiduidade nas primeiras páginas ou nos programas de TV. Casos como o da Venezuela merece um estudo a parte, já que a velha mídia está quase toda estatizada. E no meio disso tem a internet. Sem um modelo de negócio estruturado e com uma arquitetura dinâmica de divulgação ela, se torna insuperável, impossível de administrar e censurar. Ágil, interativa e com uma estrutura simples e barata, ela está imune a controles de governos. Eles podem retardar o embate evitando a banda larga, tarefa impossível diante das necessidades da economia e da vida moderna.

13 de outubro de 2010

A MORTE DA WEB. SERÁ?

A MORTE DA WEB. SERÁ? Pois é essa a novidade dos profetas do mundo digital. Ou melhor, é o que eles desejam: uma nova WEB, talhada de acordo com seus interesses. Ela seria fechada, na base dos aplicativos. Você passaria a navegar em canais fechados e recebendo somente aquilo que os senhores do universo determinam. Como acontece com a velha mídia. Será isso possível? Esses intérpretes que anunciam os novos tempos são homens tão criativos e poderosos que é bom prestar atenção neles. Só ficar de olho como se diz; a crer cegamente é melhor esperar. Berners (inventor da WEB), Jobs (Apple), Ballmer (Microsoft), Bezzos (Amazon), Schmidt (Google), Zuckerberg (Facebook), Gates (Microsoft), Tomlinson (inventor do @ e do software básico de navegação), cada um desses sobrenomes nomeia criações e representa interesses de bilhões de dólares anuais, possibilitados por suas descobertas e aplicações no nosso dia a dia que tornam nossas vidas mais fáceis e prazerosas. Democratizaram o acesso à informação, possibilitaram a revolução mais profunda que a vida do homem já experimentou sobre a terra com essa coisa chamada Internet. Chega a ser assustadora a velocidade com que criam, industrializam e comercializam suas ideias traduzidas em produtos e serviços. Com sagacidade souberam adequar suas invenções à produção industrial e superaram séculos de criação e produção. Uma década já está sendo um prazo longo para nascerem, prosperarem e desaparecerem empresas globais, colossos de faturamento e inovações. Quem se lembra hoje da American Online, a AOL? Mas ela ainda existe. Nem de longe conserva o estupendo faturamento e o musculoso veio de criação que já foi um dia. Seu lugar está ocupado por meia dúzia de outras feras inovadoras como o Google, por exemplo. Se o marco da industrialização e a consequente disseminação do gozo de seus efeitos levou pouco mais de cem anos para estar na vida de bilhões de pessoas, o mundo digital, com sua velocidade supersônica leva meio décimo disso para se recriar e estar na vida de todo mundo. Uma dúzia de nomes no mundo digital movimenta em torno deles valores superiores ao de um PIB (Produto Interno Bruto) de fazer inveja a qualquer grande economia do mundo. Com esse formato, implantaram e disseminaram nos quatro cantos do globo suas ideias e projetos. E todos eles na América. Pois são esses caras, precisamente eles, que estão possibilitando a alguns a interpretação de que a WEB vai morrer. A mesma WEB que sepultou o mundo do disco, do CD e DVD, a mesma WEB que fere de morte o mundo da mídia impressa, que assola feito um furacão o universo do livro, que tirou da TV a coroa de rainha do mundo da comunicação, ela mesma, está agora diante de seu funeral. Mas como isso pode acontecer? Um desses arautos dos novos tempos é a revista americana WIRED, uma publicação do grupo Rupert Murdoch e estrela do jornalismo digital no mundo. Neste mês de outubro de 2010, ela traz como matéria de capa o diagnóstico de que a morte da WEB está próxima. O coquetel de veneno a lhe ser servido se desenrola nos laboratórios do mundo dos aplicativos fechados. Para se entender melhor como isso funciona pode-se explicar que a Internet (rede internacional) foi criada para interligar os computadores do Pentágono ao aparato militar americano em 1968. A rede interna do Departamento de Defesa em 1972 ganha o seu primeiro software básico de email para uma rede chamada Apanet. Foi aí que um sujeito chamado Ray Tomlinsom, nascido em Amsterdam e naturalizado americano, engenheiro de formação, criou o símbolo @ possibilitando a ligação da interface gráfica com formato de endereços que organiza e transmite dados numa leitura universal. A Internet passou a ser o duto, ou a veia principal por onde transita o combustível, o sangue que lhe proporciona vida, A WEB, World Wild Web que em português quer dizer rede de correio eletrônico de alcance mundial foi inventada por Tim Berners-Lee, físico inglês no ano de 1992. A junção desses dois inventos é que veio proporcionar a revolução digital. É pela WEB que transitam os browsers (navegadores). Baseado no fato de que nos Estados Unidos a maioria dos usuários estão migrando do desktop (o PC fixo) para os dispositivos móveis, ela estaria cedendo terreno para os APLICATIVOS em celulares como iPhone e BlackBerry ou em Tablets (computadores de mão) como o iPad. As chamadas redes sociais com seus milhões de usuários também ameaçam. Só para se ter uma ideia aqui no Brasil somos 36 milhões de usuários do Orkut, disparado a rede campeã, chegando a ter num único dia 29,4 milhões de acessos. Em segundo lugar vem a rede Windows Live, o Messenger, com 12,5 milhões de usuários e em terceiro o Facebook com 8,8 milhões. Além dessas redes sociais, nos Estados Unidos é cada vez maior o número de pessoas que aderem aos dispositivos móveis. Assim, o navegador da internet, a WEB, perderia o seu reinado para os aplicativos fechados como o iTunes, da Apple e o Kindle Store da Amazon. Se assim for, aqueles nomes elencados na abertura desse artigo passariam a dominar o mundo, cada um com sua rede fechada e seu respectivo aplicativo como acontece com a TV, com o rádio e a mídia impressa. A grande vantagem da WEB é exatamente o fato de não ser necessário possuir um programa específico para leitura ou envio de mensagens de correio eletrônico. Qualquer computador ligado à internet é suficiente. E não é necessário usar o mesmo computador. Depois da criação de Tomlinson é que foi possível surgir todos esses inventos e empresas que hoje ameaçam o fim da WEB, baseados nos estudos da empresa americana TNS, onde se atesta que os usuários de dispositivos móveis usam 1,5 mais as redes sociais do que o tempo gasto respondendo a e-mails. Essa também seria a solução encontrada por estes senhores para enterrar os browsers (navegadores) onde ninguém paga por nada e obrigarem as pessoas a pagarem pelos aplicativos. Diante da ausência de um modelo de negócio consolidado para a internet essa alternativa pode vir a ganhar força e vingar. Mas por enquanto isso é um sonho apenas.

21 de setembro de 2010

O rádio no Brasil

Em seu artigo Aleluia Hildeberto comenta a importância das emissoras de rádio, que segundo ele, são o principal meio de comunicação da mídia tradicional e, com o tempo, está se reinventando e firmando-se novamente como um grande meio de comunicação. “Não acredito que os outros meios tenham a mesma chance. Em função de suas características marcadamente locais e comunitárias, e custos operacionais baixíssimos, será o rádio o primeiro a se adaptar ao mecanismo da convergência”. As oportunidades de negócios e estratégicas, no mundo da Mídia, e Web são infinitas. Incomensuráveis são as possibilidades que se oferecem ao universo do rádio. A meu ver o principal meio de comunicação da mídia tradicional que irá crescer perfeitamente adequado ao invento da WEB. Segmentado, regionalizado, localizado e comunitário o rádio crescerá em importância e difusão perfeitamente compatível com a nova plataforma de comunicação. Ele deverá ser um dos primeiros em importância para o internauta quando se tratar de informação local. Enquanto a WEB lhe abre as portas para o mundo a partir de sua casa, o rádio será os olhos e ouvidos da esquina, da rua, do bairro, da Cidade, da região e do Estado. Não creio em cadeias de rádio como no passado, ou em rádios com audiência nacional monopolizando a atenção do ouvinte de norte a sul do país, como já foi um dia antes do invento da TV. Ele terá força localizada, restrita ao universo do dia a dia da vida do cidadão. Do clima ao trânsito, do consumo ao comportamento, da escola à igreja, da diversão a saúde, o rádio é quem tem, hoje, as maiores possibilidades de nos conectar à realidade comunitária, inclusive pelo canal da WEB. Exigência de investimento pequeno, barato até, de operação descomplicada e fácil. Sua sobrevivência estará assegurada pela audiência segmentada e publicidade local. Esse mercado cresce lentamente no Brasil, por enquanto, mas será a grande descoberta da mídia tradicional em convergência com a WEB dentro de pouco tempo. O rádio nasceu com a primeira guerra mundial. A exemplo da TV e da Internet, também foi uma contribuição das necessidades e pesquisas do aparato militar americano. De um mero instrumento de comunicação para batalhões e tropas nas trincheiras, acabou por se tornar no grande marco da comunicação de massa no começo do Século XX. De lá, por volta da década de vinte, o rádio se inseriu de tal forma na vida das pessoas, alterando o cotidiano dos homens, a ponto de se firmar no contexto da evolução humana como um marco, tal qual a revolução industrial. Foi ele, o rádio, quem universalizou e carimbou a expressão “comunicação é tudo”. Ele foi o primeiro a tornar os povos mais próximos de uma maneira direta e instantânea, ao difundir a informação e aproximar o básico que tornaria a vida mais fácil e prazerosa para os humanos. O rádio foi o primeiro a atingir os rincões levando informação e diversão aonde antes nada chegava. Foi ele o primeiro instrumento de comunicação a unir os homens independente da distância que os separava. Até a segunda guerra mundial reinou absoluto. Despertava o mesmo frisson hoje causado por um computador. Aqui no Brasil, quem viveu da década de vinte até a de sessenta, ou leu a respeito, sabe muito bem do esplendor desfrutado pela sociedade brasileira nas ondas do rádio. Assim como em quase todo o mundo civilizado. E assim foi até a chegada da televisão no início da década de sessenta. Localizadas principalmente no Rio de Janeiro suas ondas médias e curtas foram as primeiras a integrar o país. Rádios como a Nacional, Mayrink Veiga, PRH 8 e Mauá no começo e décadas depois Tamoio, Globo, Tupi, entre outras, foram pioneiras junto com a rádio Bandeirantes em São Paulo e a Inconfidência em Belo Horizonte. Mas as do Rio de Janeiro eram as campeãs, por serem as primeiras e por estarem na sede do Poder central falavam em uníssono para o Brasil inteiro. Alguns anos depois surgiram as rádios regionais, entre elas se destacou a Rádio Sociedade da Bahia com sua Tribuna do Interior. Era um programa de interação na base do telegrama que integrava todo o Estado numa época que nem estradas havia, e concomitantemente vieram as cadeias de rádios com a regionalização das estações. Antes da TV, o Brasil já pensava com a cabeça do Rio e de São Paulo pelas ondas do rádio. Perdeu seu reinado para a combinação perfeita do som, imagem e cor. A TV fez com o Rádio o mesmo que agora a WEB aos poucos faz com todos os meios de comunicação. Obriga-os a buscarem uma nova forma de sobrevivência sob pena de serem varridos do mapa da comunicação. < Uma década depois da implantação da TV no Brasil, o rádio começou a perder o glamour. Duas décadas depois, ai pelos anos 80 as rádios de alcance nacional foram se restringindo e algumas até fechando, como é o caso da Tamoio, no Rio de Janeiro. Outras foram vendidas, principalmente as AMs ou OMs, de ondas médias e curtas. E é nessa época que outro fenômeno de comunicação se observa entre nós. A assustadora proliferação de igrejas evangélicas em todo o país. E elas descobrem o rádio AM como o principal difusor de suas crenças. E espraiou-se pelo Brasil afora. Nem o Ministério das Comunicações e nem a ANATEL possuem a lista das rádios de propriedade das igrejas. Se possuem não me deram. E é provável que não as tenha mesmo, tal é o emaranhado de prepostos e sucessores na propriedade. Com o advento das FMs as OMs ou AMs, perderam mercados e muitas foram compradas por bagatelas. Passaram a servir à fé e os pastores souberam tirar proveito da plataforma. Mas este fenômeno é a principal prova da regionalização do rádio, e bem antes da internet. Neste vácuo, as FMs bem que buscaram a universalização. Diante da dificuldade técnica de cobertura nacional a partir de uma única rádio partiram para as redes. Mas a idéia não vingou. Ficou um arremedo de cadeia de rádio nas organizações Globo com a CBN e na Bandeirantes com a BAND FM. Mesmo assim elas mais se destacam enquanto emissoras locais, quando estão em rede nada significam e cobrem poucos estados. Outro bom exemplo é a rádio Tupi, do Rio de Janeiro. Outrora uma rádio nacional, hoje uma boa rádio local do Rio de Janeiro e Grande Rio. É neste horizonte de conflitos e distintos caminhos que eu acredito que o Rádio vai se reinventando e firmando-se novamente como um grande meio de comunicação. Não acredito que os outros meios tenham a mesma chance. Em função de suas características marcadamente locais e comunitárias, e custos operacionais baixíssimos, será o rádio o primeiro a se adaptar ao mecanismo da CONVERGÊNCIA. O Brasil, em seus quase 6 mil municípios, tem funcionando hoje 1.778 rádios OM, ou AM instaladas em 1.214 municípios. Existe mais 1.478 municípios inscritos no Ministério das Comunicações à espera de canais de rádio OM, ou AM e 343 canais vagos nessa frequência. Já para o canal FM existem na mesma lista 5.363 municípios inscritos. Em 1.924 deles existem rádios FM em funcionamento, totalizando 2.952 emissoras e 3.597 canais vagos à espera de titulares. Portanto, existe ainda muito espaço para crescer.

14 de setembro de 2010

No Brasil é um espanto a sobrevivência das revistas

No Brasil é um espanto a sobrevivência das revistas. Em todo o mundo esse setor passa por dificuldades tal qual o setor de jornais. De acordo com o IVC (Instituto Verificador de Circulação) a entidade oficial que mede tiragens e vendas de periódicos impressos, as revistas, no Brasil, resistem bravamente aos novos tempos. Enquanto a TV e os jornais definham, desaparecem até, as revistas permanecem mantendo o interesse dos leitores, algumas, surpreendentemente, até cresceram em números de circulação segundo o IVC. É o caso dos semanários dedicados às fofocas de celebridades, enquanto as informativas VEJA, ÉPOCA e ISTOÉ navegam num mar de rosas, por exemplo.
Se os periódicos, diários, sucumbem diante da instantaneidade da Internet, se as notícias on line atraem cada vez mais interessados e se a interação passa a ser, cada vez mais, a mola propulsora do jornalismo, como explicar o permanente interesse pelos semanários? Para um executivo da Associação Nacional de Editores de Revistas (ANEER) esse fenômeno se explica pela ascensão da Classe C. Ela seria a ávida consumidora de revistas em detrimento de todos os outros meios de comunicação impressa. Obedecendo a um formato superado que vigora desde os anos 30 do século passado e modeladas em cima dos fatos acontecidos, como o próprio nome já diz, elas revisitam o que já aconteceu com algum toque de curiosidade ou fotos, sobre o que já passou. Algumas com interpretação e reexplicação, acrescentando um fato novo aqui e ali com uma foto interessante permeando a narração. Não raro, enveredam pelo caminho da denúncia, competindo arduamente com os veículos diários, impressos, e muitas vezes com a própria TV. É a luta do seguimento para disputar o interesse do leitor, inclusive com a internet. Nem tudo que está nas páginas das revistas impressas se encontra nos seus sites.
Segundo o executivo da Editora Abril, Jairo Mendes Leal, em recente palestra no IV Fórum do setor realizado em São Paulo, “o mercado brasileiro criará 200 novos títulos de revistas até o ano de 2020”. De acordo com ele serão 20 lançamentos por ano a serem consumidos basicamente pela classe C que hoje representa 49 por cento da população brasileira. Essa euforia editorial se dá em todos os seguimentos de revistas, a começar pelo setor tecnicamente conhecido como TEEN, voltado para o universo adolescente e jovem. Os números do setor indicam um crescimento de 55 por cento no primeiro semestre de 2010 em relação ao mesmo período do ano de 2009. O seguimento jovem em geral cresceu 27 por cento e as revistas femininas, populares, registraram um aumento de nove por cento nas vendas. Um dado comum a todas as publicações que puxam as vendas no setor popular é o conteúdo de fofocas e celebridades da TV. A liderança das vendas ficou com a revista VIVA MAIS com 15 por cento de aumento seguida pela revista CARAS, a líder do setor. (veja tabela de tiragem e vendas abaixo). Já as revistas informativas como VEJA, ISTOÉ e ÉPOCA permaneceram com suas tiragens praticamente inalteradas na preferência do público, com pequenas variações. Destaque para a revista VEJA que teve queda de um por cento na circulação, mas tem a preferência de 58 por cento do mercado com circulação de mais de um milhão de exemplares por edição. Numa relação de doze pessoas do meu círculo social, entre amigos e conhecidos, promovi uma pesquisa particular. Entre elas, todas foram assinantes da revisa VEJA em algum momento de suas vidas. Quatro deixaram de assinar a revista por achá-la superada diante da Internet. Duas porque não havia tempo para leitura, outras duas porque acharam que estava muito cara a assinatura e quatro continuam assinantes por razões diversas. Uma dúzia de pessoas para uma base de leitores de mais de um milhão não é uma amostra confiável para um diagnóstico seguro visando definir o real interesse de um grupo de leitores sobre determinada publicação e muito menos servir como bússola para medir a probabilidade de sobrevivência do que quer que seja. Mas não deixa de ser uma dose, ínfima, reveladora do interesse de comportamento e tendência com relação ao futuro do negócio do jornalismo. O setor exercita novas medidas por aqui. O que parece criatividade e inovação apenas é na verdade a primeira tentativa de adivinhar e se proteger contra as adversidades dos novos tempos. Algumas das nossas principais revistas femininas já estão chegando às bancas em versões de bolso, que segundo as editoras, agrada às leitoras femininas e aos jovens que gostam da praticidade do formato “pocket”. A inovação é importada do mercado europeu e americano e barateia o custo de impressão em cerca de 30 por cento, menos. Essa reengenharia agrada também ao caixa já que o modelo do negócio mantém os números de faturamento do setor e, por enquanto, vem adiando a queda de circulação. Com este modelo, agências de publicidade e editoras vão sobrevivendo no velho estilo.
É de se reconhecer que existe um elenco considerável de razões a mover a multidão que todas as semanas acorrem às bancas ou à caixa de correios em busca de seu semanário predileto, e no resto do mundo também. O que espanta é que o mesmo interesse que move o mercado brasileiro de periódicos semanais, no resto do mundo esteja vivendo um fluxo na direção contrária. Embora o modelo do negócio seja o sustentáculo do seguimento, muito mais que o interesse dos leitores, este mesmo modelo, baseado nas vendas de exemplares, no preço das páginas de publicidade, e no mecanismo desenvolvido pelas agências de publicidade junto a fornecedores e clientes, (veja artigos anteriores O MODELO DO NEGÓCIO I e II) não vem sendo suficiente para manter vivos semanários de tradição e prestígio. E explica também como uma revista como a CARTA CAPITAL, com 40 mil exemplares de tiragem seja um sucesso empresarial.
Mais recentemente foi agregada ao setor de revistas uma criativa forma de sustentar o faturamento e lucratividade das editoras. Junto com o anúncio é vendido também como publicidade à promoção e eventos. Associado ao título da revista, o anunciante se engaja na iniciativa de levar aos leitores do periódico motivação de consumo por essa forma indireta de publicidade.

BRASIL
CIRCULAÇÃO
TABELA DE TIRAGEM E VENDAS

Circulação média – Revistas semanais Publicação Nº. médio de exemplares vendidos (2009) Nº. médio de exemplares vendidos (2008) Variação (%) Veja 1.097.485 1.089.902 0,7 Época 413.286 420.477 -1,7 Istoé 344.029 353.136 -2,6 Caras 293.386 278.394 5,4 Viva Mais 231.128 193.028 19,7 Ana Maria 227.515 202.793 12,2 Tititi 155.514 134.046 16 Contigo 147.427 146.817 0,4 Minha Novela 128.070 114.630 11,7 Malu 122.976 110.509 11,3 Recreio 117.602 102.917 14,3 Quem 94.628 87.103 8,6 TV Novelas 67.054 51.806 29,4 Istoé Dinheiro 65.809 69.325-5 Sou + Eu 64.031 53.097 20,6

16 de agosto de 2010

JORNAL DO BRASIL - O FIM DE UMA ERA

Foi-se o Jornal do Brasil tal e qual conhecíamos. Desfigurado e empobrecido, agonizou sem merecer os cuidados dedicados aos anciões. Na sucessão familiar no controle da empresa editora foi-se também o pouco que restava da identidade com o seu público leitor. A nova era da comunicação nem se anunciava e o velho JB já tentava encontrar novos caminhos. Era preciso sustentar os números de vendas e defender-se do implacável poder de renovação e aceitação da concorrência. Acossado pelo jornal O GLOBO de um lado e do outro por O DIA (esse, atualmente, também em queda livre) o Jornal do Brasil perdeu-se num território minado, onde era farto o talento na redação, mas escasso na área de gerência e marketing. Sem controle e sem comando foi afundando como um grande navio, aos poucos, sucumbindo a uma administração caótica e às inovações tecnológicas. No final, teve ampla e generosa ajuda dos governos, a ponto de comprometer a qualidade do jornalismo. Ficou como prova de que o leitor não é burro. Verbas de governos não salvam jornais. Agora parte para sua etapa derradeira, a edição digital, paga. Pode ser o fim definitivo. Oxalá seja esse o caminho! As experiências que vêm sendo realizadas nos Estados Unidos, Austrália e na Inglaterra não são nada animadoras. Na Inglaterra, segundo a revista “THE ECONOMIST” cerca de 70 jornais fecharam suas portas no biênio 2008/2009 e ninguém sentiu falta. Com extrema cautela, os grandes jornais do mundo vêm desenvolvendo modelos de transferência da plataforma impressa para a digital, paga. Os gigantes da mídia impressa, capitaneados pelo senhor Murdoch, o titã midiático do século XXI, buscam, desesperadamente, o novo caminho. Como sabemos, o mundo inteiro acompanha com atenção a experiência. O que acontecer lá vai orientar todo o setor nos quatros cantos do planeta. Ao que parece, quanto mais tentam, mais se distanciam de uma solução satisfatória para o futuro de seus jornais impressos. O The New York Times (NYT), um dos mais arrojados na busca do novo caminho, estreou para o grande público da WEB introduzindo a assinatura digital e cerceando o acesso gratuito de todas as formas ao conteúdo. Inovou, junto com o The Financial Times e o Wall Street Journal permitindo o primeiro e segundo clique gratuito passando a cobrar de acordo com o interesse do internauta em se aprofundar na leitura. O NYT vem perdendo receita e circulação numa espiral assustadora. A empresa editora vem abrindo mão do controle de jornais menores em outros estados americanos e mesmo assim sua dívida não para de crescer. Já passa de um bilhão de dólares. Já vendeu sua sede e incorporou o milionário mexicano Carlos Slim como sócio. Nada disso tem assegurado tranquilidade à família controladora. Recentemente o The New York Times recuou e liberou o acesso gratuito quando buscado através dos sites de relacionamento, como Facebook, Twitter e outros. Foi uma decisão difícil. A instituição da cobrança online diminuiu drasticamente os acessos de visitantes. Até que ponto esta liberação pode comprometer todo o esforço de implantação do sistema de cobrança digital? Ainda não se tem a resposta. Um dado curioso é que todos esses grandes jornais já limitaram o acesso dos leitores no passado, só permitindo àqueles da base de assinantes. Depois de alguns poucos anos liberaram o acesso total e agora partem para essa experiência de clique. Quem marcha numa vertente contrária é o jornal THE GUADIAN, de Londres. Todo acesso é gratuito. O certo é que o velho modelo de venda de espaço publicitário mais circulação já não sustenta a velha mídia.

4 de agosto de 2010

AS PRESSÕES DA VELHA MÍDIA

publicado originalmente no site http://www.claudiohumberto.com.br 01/07/2010 Pressiona daqui, aperta por lá, escreve acolá e tenta influir em todas as esferas. No Legislativo, no Executivo e no Judiciário. A velha mídia não tem sossego mais. Na medida em que a ameaça da WEB vai se tornando realidade à agonia ganha expressão, principalmente na atuação da ANJ, Associação Nacional de Jornais, e da ABERT, Associação Nacional de Radio e Televisão. Estas duas entidades representam a expressiva maioria dos órgãos de comunicação, rádio, TV e jornais, da velha mídia. E através delas os barões da comunicação exercem seus poderes e influências especialmente em Brasília, onde esperneiam em todos os fóruns na desesperada busca de uma alternativa no sentido de parar o avanço da WEB, marcadamente no setor de produção de conteúdo. Onde se apresenta estas duas entidades citadas leia-se em destaque os grupos de mídia GLOBO, FOLHA DE SÃO PAULO, ESTADÃO E ABRIL. Esta é a que menos se expõe em função de já possuir em seu quadro societário a participação de capital estrangeiro, dentro das regras previstas pela constituição. Capital financeiro sul-africano adorna sua árvore administrativa. Juntos esses quatro grupos de mídia representam a expressividade do setor no Brasil e através das entidades de classe querem demarcar não só o espaço da WEB como a participação do capital estrangeiro na nova plataforma de comunicação.
Em nota divulgada recentemente em Brasília grifaram que “independente de plataforma a veiculação com fins comerciais de conteúdo jornalístico, sejam notícias ou esportes, enquadram-se nas determinações da Constituição que exigem o controle de empresas dessa natureza seja exercido por brasileiros”. Esse texto é basicamente a espinha dorsal do artigo 222 da Constituição brasileira escrita em 1998 quando ninguém seria capaz de prever o aparecimento de uma coisa chamada internet. Criado sob a inspiração dos grandes grupos de mídia nacionais e com o beneplácito aberto dos “coronéis eletrônicos”. Nos estados, concessionários daqueles, em sua maioria deputados e senadores ainda hoje no Congresso Nacional, estabeleceram uma reserva de mercado com a redação do artigo 222 da Constituição onde se trata da propriedade de empresas jornalísticas. Lá está explicito que “a propriedade de empresa jornalística e de radiodifusão sonora e de sons e imagens é privativa de brasileiro nato, ou naturalizado há mais de dez anos, ou de pessoas jurídicas constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sede no país”. Determina ainda o artigo que pelo menos 70 por cento do capital total e do capital votante pertençam a brasileiros. Em 2002 uma emenda constitucional foi aprovada no Congresso Nacional permitindo até 30 por cento de participação estrangeira no capital das empresas de comunicação.
O bombardeio não cessa, não só nas paginas e telas dos órgãos da velha mídia como nos corredores das comissões do Congresso Nacional onde tramita o Projeto de Lei de número 29, também conhecido como PL 29. Entre outras inovações este projeto remove as restrições ao capital estrangeiro e permite a entrada das teles na oferta de serviços de TV paga e produção e veiculação de conteúdos. E aqui mora a dor de cabeça que está virando enxaqueca sem cura para a velha mídia. O PL 29 não trata de radiodifusão ou internet e remove as restrições ao capital estrangeiro. E tampouco o artigo 222 da Constituição pode ser usado contra a produção de conteúdo, pois ele é claro com relação à radiodifusão e impressos. Tanto a ABERT quanto a ANJ lutam com todos os seus esforços para que o PL-29 atinja com seus itens e letras os sites e portais de internet que produzem notícias. A luta aqui é maior que a luta pela proibição de distribuição de conteúdo jornalístico, gratuitamente. Os “coronéis eletrônicos” querem de todo jeito manter a reserva de mercado ignorando a era da globalização. Ora sabem eles que o segundo round é mais fácil. Mas o primeiro, a produção de conteúdo para internet, é difícil. Podemos comparar a um tipo de censura a proibição que eles desejam para a nova mídia. Como eles farão para proibir o site da BBC em português? Como farão para proibir que um jovem estabelecido em território uruguaio, paraguaio, boliviano ou argentino (países fronteiriços) e com uma boa idéia possa invadir o território brasileiro produzindo conteúdo e distribuindo-o a partir do estrangeiro. Ou mesmo em qualquer outro lugar do planeta. A Internet não tem considerações por fronteiras, ela não é uma concessão do Estado, como emissoras de rádio e TVs e não goza das isenções tributárias que habita o setor de radiodifusão e impressos no Brasil.

19 de julho de 2010

A velha mídia ainda tem futuro no Brasil ?

A tese do professor Jeffrey Cole, diretor do Centro para o Futuro Digital da Universidade do Sul da Califórnia, com a qual ele sustenta que os jornais impressos, de mercados como o Brasil e a Austrália, irão desaparecer em 10 ou 15 anos, merece uma reflexão frente à realidade brasileira. Suas previsões devem ser consideradas em realidades onde a banda larga está definitivamente implantada e com tecnologias avançadas permitindo velocidades que o Brasil desconhece. O desinteresse pela velha mídia está na mesma proporção em que a inclusão digital se processa. Quanto mais gente com acesso à banda larga veloz, mais gente interessada nas novas plataformas de comunicação. Não existe nada mais maçante, irritante até, que a leitura de um texto ou a abertura de uma imagem na velocidade de kpbs, ou na internet por acesso discado. É insuportável. E notícias ainda não é o primeiro item na navegação embora seja um dos principais. Para a web ameaçar de verdade a velha mídia é necessário que o Brasil esteja integrado à banda larga. Hoje esse acesso só é possível para uma minoria, principalmente nas capitais, e apenas 20 por cento dos domicílios estão ligados à internet de alta velocidade. De alta velocidade para os nossos padrões, pois o Brasil, na lista da União Internacional de Telecomunicações, entidade da Organização das Nações Unidas,(ONU), é o 62 na lista de qualidade com relação à banda larga. Estamos atrás de países como a Lituânia e Bulgária. E em matéria de preços caros é o 77 da lista. O brasileiro paga hoje, em média, dez vezes mais caro que os habitantes de países desenvolvidos. Só para ilustrar, a França “que não é lá essas coisas” em matéria de inclusão digital, vende uma assinatura de banda larga na cidade de Paris, sua capital, com 100 megas, mais TV por assinatura e telefone por cem reais mensais. Mesmo se colocasse em cima os 45 por cento de imposto que pagamos nós, iria para 145 reais/mês. Não há comparação com os preços do Brasil. Pra começar, 100 megas por aqui é uma quimera. Uma assinatura de 7 megas, sozinha, na TIM, custa 129 reais, e quando você vai usar não passa de um mega. Mesmo os planos baratos que são vendidos em São Paulo pelas teles, e onde o governo perdoa o ICMS, são mais caros 18 vezes que o plano correspondente nos Estados Unidos, segundo o IPEA, órgão do Ministério do Planejamento. Na cidade de Rio Verde de Goiás, um dos celeiros agrícolas do Brasil, a prefeitura municipal oferece de graça, para aqueles que estiverem com o IPTU em dia, uma assinatura de banda larga de 50 a 100 kpbs, isto é, menos de um mega. È tanto o interesse que a inadimplência foi a quase zero. Mas navegar com essa velocidade é para enlouquecer qualquer um. Mas antes de brigarmos por banda larga de qualidade, algumas etapas precisam ser vencidas. Primeiro a cobertura da rede. Apenas metade das cidades brasileiras está contemplada. O esforço terá que ser gigantesco e os investimentos também. Por causa disso o governo criou o PNBL, Programa Nacional de Banda Larga e o entregou a Telebrás. Para este ano a previsão era levar banda larga de até 100 kbps para 300 cidades, isso já foi reduzido para 100 cidades. A meta de atingir 23 capitais ainda este ano passou para 17. Os pontos públicos foram reduzidos também, de 150 para 100. Além disso, resta a disputa jurídica entre as teles e o governo, mais a definição pela Anatel sobre a disputa das teles com as TVs por assinatura para ver quem vai ficar com a tecnologia WIMAX, (banda larga sem fio), e a espera pela regulamentação da MMDS, outra tecnologia de ponta para o setor. E dinheiro, muito dinheiro para investimentos. Pois além de atender ao anseio e o direito da população pela universalização da banda larga, (65 por cento dos brasileiros anseiam por isso), a implementação será uma medida que irá gerar impacto em todos os setores da vida nacional. Estudo do Banco Mundial que analisou a influência da expansão da internet em 120 países concluiu que cada 10 por cento de avanço na penetração e rapidez nos serviços de banda larga gera automaticamente um aumento de mais de um por cento no PIB de uma nação. É por isso que o governo americano irá investir 100 bilhões de dólares nos próximos 10 anos para levar banda larga barata aos mais necessitados. É pelas razões expostas que a velha mídia ainda sobreviverá por muito tempo entre nós aqui no Brasil.

18 de julho de 2010

O MODELO DO NEGÓCIO (ii)

MODELO DO NEGÓCIO (II) Juan Luis Cebrián é jornalista, diretor e fundador de um dos mais importantes jornais da atualidade. Ao lado dos americanos e dos ingleses, o El País, jornal espanhol, desfruta de prestígio e qualidade em todo o mundo. Líder em tiragem e circulação na Espanha e na Europa, nos últimos anos vem amargando tiragens cada vez menores e por um bom tempo viu também emagrecer o seu faturamento publicitário, especialmente em 2009. Sentado em sua vasta experiência e autoridade no assunto de comunicação, ele transmite algumas convicções e palpites para o futuro. A - A internet é um fenômeno de desintermediação. Que futuro aguarda os partidos políticos, sindicatos e os meios de comunicação num mundo desintermediado? B - Os jornais, tais como os conhecemos, se acabaram, adeus. Não significa dizer que deixarão de existir. É a constatação de que os impressos pertencem à sociedade industrial, e não estamos mais nela. Entramos na era digital, adeus sociedade industrial. No ano passado cerca de 600 jornais fecharam as portas nos Estados Unidos, alguns deles com muita tradição. Em geral, jornais nascem defendendo bandeiras políticas e, ao se manterem à custa das receitas publicitárias, preservam sua independência. Como esse modelo ficará? Que tipo de jornalismo queremos ter na rede? São veículos diferentes. Isso não está claro. C - Teremos de investir em capital humano na rede se quisermos fazer diferença: ter bons jornalistas, gente com preparo para enfrentar operações globais e mudar a nossa forma de pensar. Continuamos a fazer jornais como se fossemos o centro do mundo. Creio que já me livrei da dúvida se a internet é uma ameaça ou uma oportunidade. Estou convicto de que é uma oportunidade. Volto ao primeiro artigo dessa série quando um diretor de TV meu amigo disse-me que não o passaria para outras pessoas, embora tenha gostado, “porque o artigo era contra o ganha-pão dele”. Mas não é só ele, todo o mercado de comunicação chamado de velha mídia comporta-se assim. Mesmo constatando-se que a convergência de mídias vem se aprofundando, o modelo do negócio não aceita inovações. Isso porque os números financeiros são consideráveis. O mercado de publicidade no Brasil cresceu 25% no primeiro trimestre de 2010, comparando-se com o mesmo período do ano passado. Isso significa 5 bilhões e meio de reais. Desse bolo a TV aberta ficou com 63% do total. O restante foi dividido entre jornais, rádios, revistas, TV por assinatura e outras mídias. A web ficou no fim da fila com 4% do faturamento, a mesma do rádio e maior que a da TV por assinatura. Ficou com 234 milhões apenas. Mas o salto percentual é que assusta o setor. Foi de 37% em relação ao mesmo período do ano passado. Isso considerando que a internet não tem a boa vontade da espinha dorsal do sistema, as agências de publicidade, que no final são as que ficam com a grande parte da bolada, pois Brasil é o país mais conectado à internet e o que menos investe em publicidade online, no mundo. Com esse diagnóstico chegou ao Brasil uma das maiores agências digitais do mundo, a americana Razorfish. E chegou comprando briga com a proposta de transparência e de educação aos clientes para acabar com essa diferença. E os sopapos não tardaram quando seu principal executivo, senhor Joseph Crump alardeou que é contra a prática de bonificação por volume, o BV, que faz a lucratividade das agências tradicionais uma festa. E mais disse outro executivo do grupo, Fernando Tassinari “é preciso educar as marcas para quebrar esse ciclo vicioso". - As agências não querem trabalhar no digital. Estão preocupadas com o dinheiro e não com investimentos, queremos mudar isso, disse o senhor Crump. Completou argumentando que o investimento maciço em TV descarta uma parcela importante da sociedade brasileira, afirma ele. Isso foi o suficiente para a Razorfish plantar um rosário de espinhos e punhais no seu caminho aqui no Brasil. No dia seguinte à declaração veio nota da Federação das Agências de Publicidade, FENAPRO, e comunicado de todas as instituições ligadas ao setor e notas das maiores agências do país onde ressaltavam “que ajudaram a construir o atual modelo, apóiam e o defendem como o melhor para o mercado”. E como argumento derradeiro ressaltou que conseguiram do presidente Lula uma Lei legalizando o tal do BV. Arrematando, o vice-presidente da FENAPRO, senhor Humberto Martins rosnou que “o mal do nosso país é aceitar passivamente que esse e outros Crumps, venha aqui e como verdadeiras vestais interfiram na nossa vida”, ou na festa, digo eu. Enquadraram a senhora Razorfish. Mais, saiba ela que é questão de tempo, a audiência e as tiragens é que irão mudar isso um dia. Uma hora o anunciante vai se dar conta. O Brasil é assim, sempre está na contramão do mundo. O Presidente da WPP, a maior agência de publicidade do mundo em faturamento, Martin Sorrel, atribui o grande crescimento dos Brics, (sigla que designa o grupo de países formado pelo Brasil, China, Rússia e Índia), ao investimento em mídias móveis e que com os consumidores passando cada vez mais tempo conectados à internet, a tendência é que os números sobre investimentos em novas mídias crescem em velocidade avassaladora. Segundo seu vice-presidente operacional, Michael Mendenhall “o maior atrativo das novas mídias é que os anunciantes podem ir além o modelo tradicional de uma mensagem para as massas e conversar com o consumidor”. Eles desejam sair do marketing invasivo para o de relacionamento. Hildeberto Aleluia é jornalista

2 de junho de 2010

O MODELO DO NEGÓCIO (I)

A quem não é do ramo soa um pouco estranho todo esse imbróglio da luta entre a Internet e a mídia tradicional. Quem não está familiarizado com o assunto, custa mesmo a entender. Ainda mais quando se depara com informações que dão conta do faturamento cada vez maior da TV, no mundo da publicidade. E mais, o telespectador não se interessa e nem sempre dispõe de informações para avaliar a queda de audiência, a tiragem de jornais e revistas, impressos, e muito menos a audiência de seu programa favorito de rádio. E nem teria porquê. Esse assunto só é acompanhado com rigor, especialmente, por três seguimentos: publicidade, patrocinadores e gestores do negócio. Há outros interessados, como profissionais do ramo, institutos de pesquisa e curiosos. Mas é ínfima, insignificante mesmo, a parte da população que tem noção de como funciona esse mundo. Mas é muito interessante mesmo. É difícil de explicar. Se a TV perde audiência, se os jornais diminuem cada vez mais suas tiragens, se as revistas cada vez vendem menos e as rádios vêem a cada dia a circunscrição de seu território de audiência, como pode então os números que eles apresentam a cada ano com um faturamento cada vez maior. Isso é difícil de entender mesmo, até para os iniciados. Chega a ser um espanto. Um negócio que diminui a cada dia apresenta a cada ano faturamento cada vez maior. Mas isso é verdade e só é possível graças ao modelo do negócio. O negócio da comunicação nasceu e sobrevive sobre dois pilares básicos, seja jornal, revista, rádio ou TV. No caso dos dois primeiros quanto mais vendem exemplares mais publicidades podem angariar, pois todo aquele que se interessou pelo exemplar teoricamente vai se interessar pela publicidade inserida. Ou, no mínimo, se informar sobre o produto. Como o preço exibido na capa não paga nem um terço de seus custos, a publicidade ou o comercial lá inserido é seu alimento principal. No caso daqueles produtos que são distribuídos gratuitamente, o comercial ou a publicidade é mais fundamental ainda. Se não há publicidade, alguém está financiando ou bancando integralmente o veículo de comunicação. No caso da TV e do rádio vale o mesmo principio só que medido pela audiência, ou seja, o número de pessoas que assistem à programação do veículo. Quanto mais gente assistindo a programação mais caro vai custar os segundos para veiculação de comerciais e mais interessados existirão em inserir sua publicidade. Esse desenho é válido para todos os veículos de comunicação gratuitos ou pagos. É assim desde os primórdios da imprensa ou da comunicação. Primeiro essa mecânica era impulsionada pelo corretor, aquele que ia atrás do interessado em publicar seus anúncios no veículo escolhido. Por essa intermediação ele era remunerado com uma comissão previamente acordada com o dono do veículo. Depois, aí na primeira metade do século XX, surge entre nós a figura da agência de publicidade. Era o corretor que virava empreendedor estabelecido. Criava uma empresa para angariar anúncios e contas. E prosperava. Com o sistema capitalista em expansão a produção para consumo, principalmente, necessitava de canais para mostrar o que era produzido e vender. Anunciar benefícios e preços de seus produtos e alardear o prestígio de suas marcas tornaram o setor produtivo o principal sustentáculo dos meios de comunicação. E assim as agências de publicidade romperam a metade do século XX e até hoje como um dos melhores negócios na área de serviços. No começo a agência era remunerada a seu bel prazer ou por acordo prévio entre os interessados. Pouco depois os negócios prosperaram tanto e eram tantas as agências que o setor se organizou, se autorregulamentou e impôs disciplina, criatividade, parâmetros e qualidade. Ao longo dessa caminhada a remuneração delas ultrapassou 30 por cento do valor contratado. Cálculo simples, para cada um real entregue pelo contratante à agência para veiculação de sua publicidade, ela ficava com mais de 30 por cento a título de comissão. Mesmo considerando a remuneração de sua cadeia produtiva era e é uma senhora remuneração em se tratando de intermediação de prestação de serviços. Hoje não é mais assim. Mas o setor produtivo só alcança o consumidor via comunicação e aí a publicidade é vital e imprescindível, assim como os meios de comunicação para chegar ao comprador. Por isso ela foi chamada pelos americanos de “A ALMA DO NEGÓCIO”. Mas se a publicidade é a alma do negócio, o volume de dinheiro que ela gira e os ganhos que proporciona é a mina de ouro do setor de serviços. A publicidade já foi chamada de o “espelho dos povos” por um publicitário francês, arguto observador do desenvolvimento social do século XX. E realmente é. Basta pesquisar sua evolução ao longo do tempo e veremos como se portou e evoluiu uma determinada sociedade. Não só por seus hábitos de consumo, mas por comportamento e nível educacional e cultural. Isso evidencia cuidado na elaboração de seu produto e por isso ela deve ser bem remunerada. Mas essa mecânica negocial, junto ao escopo de funcionamento e vendas dos meios de comunicação são responsáveis por um modelo de negócio que ainda mantém de pé a velha mídia e por hora retarda o crescimento da Internet. As verbas de publicidade são cada vez maiores. Embora a remuneração das agências já não se comporte com a fartura que foi até os anos 90 do século passado, o bolo do mercado publicitário é cada vez maior. Quanto mais cresce o consumo, quanto mais arriba a produção, mais publicidade se faz necessária. Escorados num modelo com um século de existência e altamente organizado, a velha mídia remunera bem esses intermediários. Os contratos variam muito e pouco se sabe sobre as remunerações hoje em dia. Mas muito do passado persiste, desde a remuneração de até 20 por cento do valor da verba publicitária até uma figura onírica chamada BV, que nada mais é que a chamada bonificação de veículo. É um prêmio em espaço publicitário ofertado pelos veículos às agências que mais inserem publicidade em suas programações. De posse desses BV’s as agências agregam mais faturamento, pois podem vender, negociar, ofertar ou simplesmente repassar ao seu cliente como desconto. A velha mídia é organizada, influente, esquematizada e faz opinião com a qualidade e critério de suas programações e informações tornando-se desta forma “confiável“ a todos, principalmente ao setor produtivo - o modelo de negócio persiste, apesar do avanço da Internet. Existe no mercado um enxame de exemplos, o mais evidente e curioso vez por outra se manifesta. Os grandes vendedores de varejo, os maiores anunciantes do país são um dos sustentáculos da velha mídia. Pois eles mesmos colocam anúncios chamando o consumidor para seus sites de vendas e suas empresas ponto.com. Ora, sabem eles, sabem as agências e sabemos nós, que os leitores, telespectadores e ouvintes da velha mídia são minoria frente à avalanche de acessos da à Internet. Um site de um colunista de Brasília tem mais acessos diários que a tiragem dos dois maiores jornais da cidade. Isso se repete por todo o Brasil. Em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, Belo Horizonte, Cuiabá e em muitas das nossas grandes cidades. Fora os grandes portais onde o acesso é dezena de vezes maior que o número de telespectadores e leitores, juntos. Mas publicidade, quase nenhuma em alguns casos e muito pouca em outros. Faltam-lhes a confiança e aceitação por parte dos anunciantes e boa vontade por parte das agências. A Internet ainda é desorganizada, incerta e padece de uma doença gravíssima, em termos de comunicação. Falta-lhe credibilidade naquilo que publica. Esses dois fatores atuam juntos, em favor da velha mídia. Desorganizada, ainda faltam-lhe cor, cheiro, maquiagem, segmentação e designer, para modelar o negócio e torná-la confiável. A web, embora seja uma floresta frondosa, encorpada, grande e aberta é cheia de trilhas e armadilhas onde não se sabe bem onde vão dar. Apesar disso, o seu mecanismo de aferição é muito mais confiável do que o da velha mídia. Estratificada, seu faturamento se dá numa proporção completamente diferente dos meios de comunicação tradicionais. Quando se organizar, poderá atrair o interesse das grandes agências com suas grandes contas e seus grandes faturamentos. São significativos os números das vendas pela internet dos sites de inúmeros produtos. Devagar ela engatinha com pequenos sustos nos gigantes. Há outros mistérios, entre os quais o programa BBB. O de número 10 faturou 340 milhões de reais, 20 por cento a mais que o de número 9. No entanto a audiência foi muito, muito menor. Mas o principal é esse que tratamos aqui. Se não vejamos: em 2009 a mídia brasileira faturou cerca de 23 bilhões de reais (cerca de 13,5 bilhões de dólares), um aumento de quatro por cento sobre o ano anterior. Segundo o grupo de mídia M & M em pesquisa junto com PricewaterhouseCoopers a TV aberta ficou dona de 60,9 por cento desse montante, mais da metade do investimento e cresceu 7,65 por cento sobre o ano anterior, chegando a 13,5 bilhões de reais. Enquanto jornais e revistas tiveram queda de faturamento, em comparação com o ano anterior, ficando com 8,11 e 6,18 por cento, respectivamente, a à Internet coube apenas 4,27 por cento da verba, algo em torno de um bilhão de reais, menos que o setor de rádio que ficou com 4,43 por cento do bolo. Enquanto este cresceu 9,35 por cento com relação a 2008 a Internet cresceu 25,2 por cento em relação ao mesmo período. Este ano, 2010, a expectativa é que cresça 30 por cento. No mundo, a Internet já é a terceira mídia em faturamento, estando à sua frente apenas a TV e os jornais. Ela está na frente inclusive, das revistas. Segundo resultado de estudos realizados pela empresa Zenith Optimedia, ela já está bem perto de ultrapassar os jornais. Em 2009 a web atraiu 55 bilhões de dólares de investimentos publicitários em todo o mundo e com isso tornou-se destinatária de 12 por cento do total de publicidade investido no planeta, ficou atrás dos jornais que atraiu 23,1 por cento e da TV que ainda reina absoluta com a receita de 39,4 por cento. As revistas amargaram um quarto lugar com 10,3 por cento do bolo. A mesma empresa projeta para 2012 seu crescimento para 17,1 por cento de participação na publicidade mundial enquanto os jornais terão 19,4 por cento. Daqui a dois anos, portanto, a Internet deverá atrair investimentos em torno de 83,9 bilhões de dólares contra 95,4 bilhões dos jornais e 199,7 bilhões de dólares para as TVs que estão então com uma participação de 40,6 por cento, do bolo total no mundo. Este ano de 2010 a Zenith estima que o setor publicitário no mundo venha faturar 456 bilhões de dólares. Para a América Latina a previsão é de 33 bilhões de dólares. Os números são expressivos tanto no Brasil como em todo o mundo. Mas por aqui e por ali, sutilmente, começam a surgir movimentos de mudança na forma de compra dos espaços, tempos publicitários e também na forma de remuneração das agências de publicidade. Esse mercado se move e inova muito. É comum as agências comprarem espaços, antecipadamente, adiantando recursos financeiros aos veículos e posteriormente leiloando no mercado. Essa forma de atuação ganhou o nome de bureau de mídias. Não vingou no Brasil. Experiências realizadas nos Estados Unidos já incorporaram agências de publicidade como parceiras nos lançamentos de produtos. Ao invés de serem contratadas nos moldes de contratos tradicionais, elas foram remuneradas pela criação e produção de campanhas, e comissionadas de acordo com o sucesso de vendas do produto. A gigante UNILEVER que gasta cerca de cinco bilhões de dólares por ano em propaganda em todo o globo reavalia sua estratégia de comunicação no mundo. O objetivo é a redução das comissões das agências de publicidade. Não por falta de criatividade e competência destas, mas com a finalidade de reduzir custos. Sejam lá quais forem as consequências no futuro dessas relações na publicidade, um setor de comunicação que cresce 30 por cento ao ano não poderá ser ignorado na hora da divisão do bolo publicitário. As agências se renderão à web quando esta se organizar. Hoje a participação da web já é maior que a dos jornais em muitos países, longe de ameaçar a TV, mas não deve demorar muito. O anunciante não é burro e deseja que o seu produto seja visto e comprado pelo maior número de pessoas possíveis.

1 de junho de 2010

ainda a banda larga no brasil (II)

O governo federal finalmente veio a público e anunciou o projeto do país para a banda larga. Com estardalhaço, a velha mídia emoldurou os números. Dizem e anunciam que serão investidos até 13 bilhões de reais para levar internet rápida a 28 milhões de residências em todo o país, atingindo principalmente, as classes C e D. Isso equivaleria a beneficiar mais de 60 milhões de pessoas em cerca de 5 mil municípios do Brasil. O Plano Nacional de Banda Larga (PNBL) estaria destinado a reduzir em cerca de 70% o preço médio atualmente cobrado pelas concessionárias por uma assinatura de net rápida de um giga. Sairia por preços módicos, algo a partir de 15 a 20 reais, e assim seria possível levar internet rápida com baixo custo e alta velocidade para mais de 4 mil municípios, atendendo dessa forma a cerca de 80% da população distribuídas nos 26 estados mais o DF até 2014. A meta é elevar o número de domicílios ligados na banda larga de 13,5 milhões para 35 milhões daqui a 3 anos. Ao ser anunciado o plano as ações da velha Telebrás, a quem caberia a execução do projeto, subiram, num só dia, 48% na bolsa de valores de São Paulo. Muita gente ganhou dinheiro com isso. E ninguém ganhou banda larga. A ideia do governo é boa, apesar da grita das teles, e a Telebrás é a única capaz de levar a banda larga ao interior do Brasil, não só por sua infraestrutura e capilaridade, como também pela capacidade de subsidiar aqueles que não poderão pagar. E sem banda larga espalhada por todo o país, o Brasil jamais poderá crescer o que se espera. Entre os aportes do tesouro, BNDES, recursos com origens em fundos e outros créditos, o governo espera aportar na nova empresa 13 bilhões de reais nos próximos 4 anos e assim atender as metas fixadas com ofertas que irão de velocidades de 1 megabit por segundo (Mbps), a provedores de até 230 reais e os provedores repassariam aos usuários acessos a partir de 35 reais por 216 kilobits por segundo (kbps) e acesso de 750 Kbps custaria 50 reais, em média. Essas velocidades são risíveis perto do que existe nos países de primeiro mundo e até na Letônia e Bulgária, no Leste Europeu, com banda larga muito melhor e mais barata que a nossa. Mas, como diz o ditado popular “quem não tem cão, caça como gato” e está muito bom. Um pequeno detalhe, importante, foi omitido, nesse caso. A União Internacional de Telecomunicação, organização mundial que congrega os interesses das empresas de telecomunicações, espécie de FIFA do setor, em seus estatutos diz que a banda larga só é considerada a partir de 2 Mpbs . Não será o caso da nossa Telebrás. E por último temos o grave problema da Amazônia, onde se destaca o caso de Roraima que deverá ficar fora do programa. Nas expectativas mais otimistas do governo o alcance de Roraima pelo PNBL só se dará em 2014. Pensa-se em fornecer o serviço através da Venezuela por meio de sua rede de fibra ótica, já que a Venezuela é quem fornece a energia elétrica que abastece aquele Estado. No país de Hugo Chaves falta de tudo e com pouco se pode contar. Amazônia à parte, não será ela que irá impedir a caminhada do PNBL, apenas irá se juntar a centenas de outras localidades principalmente na zona rural onde a luz elétrica ainda é um sonho. A inclusão digital da região amazônica, sozinha, engole os 13 bilhões de reais previstos no programa. As teles estão chiando, esperneando, gritando aos quatro cantos que o governo está rompendo o compromisso assinado por ocasião do programa de privatização da telefonia. Após o anúncio da criação da Telebrás as teles foram ao mercado e contrataram grandes escritórios de advocacia com o intuito de embarreirar o PNBL. Ora bolas, essas teles vendem banda larga no mercado a preços proibitivos e velocidades horrorosas. A banda larga no Brasil é uma das piores e mais caras do mundo. E mais, elas não têm condições de realizarem os investimentos necessários. Somente a título de ilustração, a OI não tem mais capacidade de endividamento junto ao BNDES, o grande agente financeiro do desenvolvimento nacional. A OI já foi até na China buscar financiamentos, está endividada nos quatros cantos e continua a vender serviços caros e ruins, reconhecidos até pela ANATEL, a agência reguladora do setor. A TIM vende uma assinatura de 7 megas com modem para notebook e quando você vai usar, ela não passa de um mega. Esse logro se sucede em todas as companhias, isso sem contar que elas são as campeãs de reclamações por parte dos usuários em todo o tipo de serviço que vendem. É justo que o governo volte ao setor. Agora o que não se discute, o que a grande mídia e o setor ignoram são os investimentos previstos para a Telebrás levar a banda larga para todo o país. Os 13 bilhões de reais previstos não dão para nada. Com esse dinheiro nunca teremos banda larga boa. Pois saibam que a Itália com menos de um quarto de nossa população e territorialmente 20 vezes menor vai investir nos próximos 10 anos, 10 bilhões de euros para levar a banda larga aos menos favorecidos. Os Estados Unidos irão investir no mesmo período 100 bilhões de dólares, isso mesmo que você leu, 100 BILHÕES DE DÓLARES, para o mesmo fim. Considere que o número de pobres na América é muito menor que o nosso e a banda larga prevista para esses dois países terá uma velocidade mil vezes maior que a nossa. Portanto, por enquanto, o nosso sonho de banda larga boa e barata é uma quimera. *Hildeberto Aleluia é jornalista

28 de maio de 2010

AO ESTADO TUDO? MENOS

Sempre tive medo do Estado. Nunca confiei no Estado. Sou contra à idéia do Estado forte atuando como agente econômico na ponta do mercado. Não chego a ser um neo-liberal, na concepção clássica onde se consagra o principio de ao mercado tudo. Não, nesse assunto sou coluna do meio, ou flex , isso para não dizer que cada caso é um caso. Mas vamos à história:

Dia desses, eu via TV, um jornal. E lá o vice-presidente da Republica, o ínclito mineiro José Alencar, mais admirado por sua convivência com a doença que por qualquer outras de suas múltiplas virtudes, recomendava a todos os brasileiros fazerem o exame de pet, que segundo ele, detectava câncer. Como ele mandou todos os brasileiros realizarem o exame eu imaginei que o SUS fizesse. Fui saber o que era isso. Meu medico recomendou que o fizesse, não só pelo meu histórico genético familiar e também pela idade.

Trata-se de um exame de última geração chamado PET CT. É coberto por poucos planos de saúde e custa em torno de 4 mil reais. Realmente é uma maravilha da tecnologia. Ele varre seu corpo por inteiro e dá ao médico uma visão profunda, permitindo um diagnóstico preciso de suas células, além de uma avaliação adequada de sua qualidade de vida agora e no futuro. Trata-se de um exame com tecnologia nuclear em todas as suas etapas. Para realizá-lo é necessário a ingestão de uma substância chamada FDG 18 F que é produzida,diariamente,no Fundão pelo Instituto de Energia Nuclear (IEN), da Comissão Nacional de Energia Nuclear, (CNEN), órgãos estatais pertencentes ao Ministério da Ciência e da Tecnologia. Essas substâncias são importadas e o manejo e venda é monopólio do Estado. Nas instruções de procedimentos para realização do exame, fornecidas pelo laboratório tem uma advertência ressaltando que “ocasionalmente pode haver um atraso,ou outro imprevisto na entrega do material. Delicada forma de avisar que o atraso e imprevistos acontecem sempre. Neste caso tentaremos entrar em contato com o paciente o quanto antes para que os horários dos exames possam ser adaptados”. Explicações dignas do preço cobrado. Mais embaixo havia uma outra dizendo que após a encomenda do material o exame não pode ser desmarcado. Ou seja, se você não puder ir vai perder a grana.

Em jejum, às 10 horas da manhã,quando me preparava para sair de casa o celular me avisa através de uma voz ansiosa que o exame atrasaria e que eu retardasse minha chegada em mais uma hora. Houvera um problema no fundão e o IEN atrasara a entrega da substancia. Próximo das 11 horas outro telefonema com desculpas e mais um atraso de uma hora.Mas eu já estava no hospital e já tinha levantado o telefone do tal IEN e nome dos responsáveis pelo processo. Liguei, disse que eu era medico responsável do Samaritano, onde eu estava, e a atendente, sem papas na língua entregou tudo:

- pois é doutor, o senhor já sabe como é isso aqui. De novo o fulano não veio trabalhar, o chefe dele está viajando e a turma aqui só chegou pela manhã e por isso a substância não foi feita de madrugada, na hora devida.

Ali, no quarto andar do hospital Samaritano, tido como a catedral médica do Rio, eu e mais 4 pacientes, em jejum desde o dia anterior, pacientemente aguardávamos que os agentes do Estado brasileiro, num setor monopolista, se mobilizassem para cumprir a tarefa como se estivéssemos em Cuba ou na extinta União Soviética. Descobri também que a pratica faltosa é comum. Descobri que a substância é importada do Canadá onde o exame custa metade do preço e os funcionários responsáveis pelo manuseio não faltam ao trabalho. Existe coisa pior, pensei.

Será no dia em que o funcionário faltoso errar na mistura. Conformei-me.

Não contente fui em busca de uma fonte qualificada do setor. Disse-me ele que o conjunto de atividades da área nuclear que hoje estão sob a égide do Ministério da Ciência e Tecnologia vegeta, com níveis mínimos de sobrevivência. Ele quer dizer com isso que o Estado apenas paga os salários mas não existem recursos para pesquisas e outras atividades e sentencia:

-o IEN, juntamente com o IPEN de São Paulo e o CDTN de Belo Horizonte, além de outros Institutos como o de Radiometria e Dosimetria e o Centro Agrícola de pesquisas Nucleares são órgãos desconhecidos da sociedade no que diz respeito ao que fazem e porque fazem. o IPEN como está na USP é um pouco melhor.

Na visão de minha fonte, esses pequenos problemas aqui citados, aliados a outros, bem maiores são os indicadores de que está na hora de rever o monopólio no setor.

 Aleluia Hildeberto é jornalista

13 de maio de 2010

O NOSSO JORNAL IMPRESSO

AGÊNCIA RIO DE NOTÍCIAS

Confira a nova coluna do jornalista  Aleluia Hildeberto, na Agência Rio de Notícias, nesta segunda-feira (5).16h45


http://www.agenciario.com/colunistas/aleluia.asp
por aleluia hildeberto

05/04/2010

Aqui entre nós, no Brasil, a mídia impressa também agoniza. E não é de agora. Vem desde antes da Internet.Vem morrendo aos poucos. Há mais de 20 anos, jornais como O DIA , O GLOBO e FOLHA DE SÃO PAULO batiam a casa do milhão em tiragens e vendas nos fins de semana. Isso sem falar no glorioso Jornal do Brasil que hoje não passa de uma sombra do que foi no passado. Antes ainda da WEB determinados a manterem suas tiragens de fazer inveja ao primeiro mundo se transformaram em verdadeiros supermercados. Ofereciam como brindes, de bicicletas a panelas, de faqueiros a passagens de avião. Nada adiantou. Em vez de buscarem um jornalismo novo, participativo e de serviços que demandariam investimentos, preferiram a política de benesses com o escondido intuito de manterem o faturamento e sua rentabilidade. Afinal são empresas pessoais, familiares e o caixa é, exclusivamente do dono. Dos três primeiros citados, o primeiro hoje não passa dos 50 mil exemplares e os dois gigantes estacionaram em números que não passam dos 300 mil exemplares. Se juntarmos todos os jornais do quadrilátero Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte e Brasília não chegam a dois milhões de exemplares na tiragem conjunta. E é de espantar a quantidade de publicidade do governo federal neles veiculadas, sem contar as inserções dos governos estaduais, numa clara demonstração que sem a verba dos governos a agonia seria maior. Curioso observar também que a circulação cai, mas o faturamento e rentabilidade dos jornais não seguem a mesma trilha.
Segundo a publicação Meio e Mensagem, termômetro do mercado, com dados do IVC, (Instituto Verificador de Circulação) que afere a tiragem e circulação da mídia impressa, em 2009 os 20 maiores jornais brasileiros tiveram uma queda de 6,9 por cento no seu conjunto com relação ao ano de 2008. Diz ainda que onze títulos viram seus números encolheram. Os dois que mais caíram foram o jornal O DIA com menos 31,7 por cento e o MEIA HORA, (do mesmo grupo empresarial), com 19,8 por cento a menos.Também caíram o Diário de São Paulo (menos 18,6 por cento), Jornal da Tarde com menos 17,6 por cento, o Extra com menos 13,5 por cento, O Estado de São Paulo com menos 13,5 por cento; Diário Gaúcho com menos 12 por cento; O Globo com menos 8,6 por cento; Folha de São Paulo com menos 5 por cento e o Estado de Minas que tem uma tiragem irrisória com menos 2 por cento.
Diz ainda o Meio e Mensagem que a liderança em tiragem pertence à Folha de São Paulo (média diária incluindo domingo de 295 mil exemplares), seguida do jornal Super Noticia (289 mil), depois vem O Globo (257 mil) e o Extra (248 mil). Em quinto lugar vem o Estado de São Paulo (213 mil), depois vem o Meia Hora, do Rio de Janeiro, do mesmo grupo O Dia (186 mil) e os gaúchos Zero Hora (183 mil) e Correio do Povo (155 mil) e Diário Gaúcho (147 mil). Completa a lista como décimo colocado o esportivo Lance (125 mil). O Jornal do Comércio, do Rio, dos Diários Associados, que já foi o jornal mais rentável do Brasil, proporcionalmente, em seus dois últimos balanços deu prejuízo, e a tiragem já não é representativa a ponto de nem entrar na lista.
Conta a lenda que o velho Roberto Marinho dizia que "um jornal leva dez anos para morrer". É um mito que circula pelo mercado, pois a velha Tribuna da Imprensa agonizou décadas e só foi enterrada recentemente quase dez anos após a morte dele. Nos seus áureos tempos, tanto a Tribuna como todos os outros jornais, valiam tanto por seus articulistas como pelo noticiário enviado por seus correspondentes nas praças nacionais e internacionais. Cada jornal tinha um ponto de vista exclusivo e particular sobre um assunto comum a todos. Isso os diferenciava e criava leitores cativos. Ou então havia os setoristas. Em cada órgão do governo, em cada setor da cidade havia o repórter especialista. Chamava-se setorista pois o qualificava e dava-lhe autoridade para discutir e escrever em profundidade sobre o assunto que lhe era pertinente. Seus articulistas não mesclavam palavras para agradar a gregos e troianos. Seus textos eram claros, objetivos, contundentes e buscavam um caminho, seja contra ou a favor. Não existia a mesmice de credos, de rima e de simpatias, especialmente quando se trata do poder. Havia posições definidas do ponto de vista editorial e o compromisso com a notícia, custasse o que custasse. E foi nessa escola do jornalismo impresso que prosperou a TV. Mas a partir dos anos 80 os jornais impressos começaram a desativar as suas sucursais pelo Brasil afora e a demitir seus respectivos correspondentes. A TV estava lhe roubando espaço e credibilidade. No lugar daqueles passou a utilizar os serviços das agencias de notícias. E aí a imprensa perdeu a sua individualidade, o seu olhar particular. A mesma matéria, com o mesmo ponto de vista passou a pontuar em todas as páginas dos diferentes jornais. Acabou-se o setorista, a mesma matéria, distribuída pela agencia de notícias, contra ou a favor, informando ou relatando um feito ou fato, com a mesma redação passou a constar em todas as páginas dos diferentes jornais. Isso se enraizou de tal forma na imprensa brasileira, e passou a ser encarado com tamanha naturalidade pelas empresas ao ponto do jornal O Estado de São Paulo em sua edição de 5 de julho de 2009, na página A 9, do caderno Nacional , sobre o escândalo que rondava o Senado Federal e seu diretor o senhor Agaciel Maia o seguinte parágrafo:
-as movimentações de dinheiro são vultosas, segundo apuração da Folha de São Paulo que revela a existência das contas em sua edição de hoje.
E na mesma data, realmente, a Folha de São Paulo trazia em sua primeira página a chamada sobre a movimentação das contas sigilosas do Senado. Ou seja, eles passaram a agir em bloco, um ajudando o outro, como num monopólio ou oligopólio. Já não competem entre si. Já não diferenciam o ponto de vista editorial e informativo. Um chama para o outro, sobre o mesmo assunto. Isso é um jornalismo de Estado, ou um jornalismo a serviço de seitas, ideologias ou partidário. Nunca a serviço do leitor. O mínimo que deveria fazer o Estado de São Paulo era calar-se. Jamais chamar para as páginas da Folha. Ou noticiar o assunto no dia seguinte e dizendo que era matéria copiada da Folha. Esses oligopólios de informação, para uns, passou a produzir uma forma curiosa de jornal. Quase todos os grandes desenvolveram uma marca popular, mais barata e subsidiada pelo jornal principal e lá são publicadas as matérias que as páginas do jornal cabeça não absolveu. Como são baratos, setenta, oitenta por cento menos que o preço de capa do jornal cabeça, vende muito mais e atraem anunciantes. Têm mais anúncios que notícias,frequentemente. Esse é apenas um dos muitos aspectos curiosos que permeiam o setor de imprensa no Brasil. Isso sem falar na falta de criatividade.Tudo isso diminui custos,reduz investimentos mas compromete a qualidade do jornalismo,aumenta a rentabilidade da empresa mas afasta para bem longe o leitor. E com a chegada da Internet estas coisas ficaram expostas, evidentes demais. Os jornais perdem leitores e credibilidade. Já não mofam nas bancas por que lá não se vende mais, perde assinaturas sua nova forma de venda.
Existem inúmeros exemplos da decadência da mídia impressa pelo Brasil afora. Vale citar mais alguns. Quem conheceu o Diário do Nordeste, jornal cearense editado em Fortaleza, em seus áureos tempos, sente arrepios quando o tem nas mãos agora. Era um jornal dinâmico, pujante, atraente e tão participativo que ninguém diria tratar-se de um jornal regional, provinciano. Hoje, na mesma Fortaleza, o mesmo jornal não passa de um exemplar esquálido, com matérias requentadas, editado com material distribuído pelas agencias de notícias e nem de longe lembra o jornal que já foi um dia. E cada vez mais, engordando suas páginas a presença do Estado,federal, estadual e municipal, trazendo rentabilidade para a empresa mas comprometendo a qualidade do jornalismo. Da mesma forma na Bahia. Enquanto durou o reinado de Antonio Carlos Magalhães,o famoso ACM, o jornal A Tarde, um dos baluartes do jornalismo brasileiro mas parecia um jornalzinho de bairro. ACM odiava a família proprietária e jurava de morte o excelente Diário. Não conseguiu destruí-lo. Mesmo criando o Correio da Bahia, gordo, forte, pujante mesmo com uma tiragem 80 por cento menor que A Tarde. Mas tinha as benesses do governo estadual, aliás,todas. E prosperava. Findo o reinado ACM a situação se inverteu. A Tarde recuperou seus dias de glória, se bem que com uma tiragem infinitamente menor, enquanto o concorrente míngua e naufraga a olhos vistos. E já não tem a mesma combatividade com o governo estadual. Desnecessário escrever ou chamar a atenção para o fato de que as benesses governamentais mudaram de bairro.
É assim que as empresas editoras de jornais estão sobrevivendo, umas melhor que outras, mas todas na corda bamba da ameaça da web. Muito embora suas empresas continuem rentáveis em função de uma série de artifícios,alguns dos quais vimos aqui e onde o leitor passa longe, elas emagrecem, perdem circulação. Um pouco diferente dos Estados Unidos onde em 2009 a indústria de jornais deu um suspiro e deram uma recuperada no faturamento no segundo semestre. Mas por conta da diminuição dos custos operacionais, ai compreende-se também demissões,e menos por conta de conquista de leitores. E olha que lá são 128 milhões de adultos lendo jornal em papel todos os dias. E aqui no Brasil? Não sabemos, mas posso garantir que não chegamos a 5 por cento disso.