16 de agosto de 2010

JORNAL DO BRASIL - O FIM DE UMA ERA

Foi-se o Jornal do Brasil tal e qual conhecíamos. Desfigurado e empobrecido, agonizou sem merecer os cuidados dedicados aos anciões. Na sucessão familiar no controle da empresa editora foi-se também o pouco que restava da identidade com o seu público leitor. A nova era da comunicação nem se anunciava e o velho JB já tentava encontrar novos caminhos. Era preciso sustentar os números de vendas e defender-se do implacável poder de renovação e aceitação da concorrência. Acossado pelo jornal O GLOBO de um lado e do outro por O DIA (esse, atualmente, também em queda livre) o Jornal do Brasil perdeu-se num território minado, onde era farto o talento na redação, mas escasso na área de gerência e marketing. Sem controle e sem comando foi afundando como um grande navio, aos poucos, sucumbindo a uma administração caótica e às inovações tecnológicas. No final, teve ampla e generosa ajuda dos governos, a ponto de comprometer a qualidade do jornalismo. Ficou como prova de que o leitor não é burro. Verbas de governos não salvam jornais. Agora parte para sua etapa derradeira, a edição digital, paga. Pode ser o fim definitivo. Oxalá seja esse o caminho! As experiências que vêm sendo realizadas nos Estados Unidos, Austrália e na Inglaterra não são nada animadoras. Na Inglaterra, segundo a revista “THE ECONOMIST” cerca de 70 jornais fecharam suas portas no biênio 2008/2009 e ninguém sentiu falta. Com extrema cautela, os grandes jornais do mundo vêm desenvolvendo modelos de transferência da plataforma impressa para a digital, paga. Os gigantes da mídia impressa, capitaneados pelo senhor Murdoch, o titã midiático do século XXI, buscam, desesperadamente, o novo caminho. Como sabemos, o mundo inteiro acompanha com atenção a experiência. O que acontecer lá vai orientar todo o setor nos quatros cantos do planeta. Ao que parece, quanto mais tentam, mais se distanciam de uma solução satisfatória para o futuro de seus jornais impressos. O The New York Times (NYT), um dos mais arrojados na busca do novo caminho, estreou para o grande público da WEB introduzindo a assinatura digital e cerceando o acesso gratuito de todas as formas ao conteúdo. Inovou, junto com o The Financial Times e o Wall Street Journal permitindo o primeiro e segundo clique gratuito passando a cobrar de acordo com o interesse do internauta em se aprofundar na leitura. O NYT vem perdendo receita e circulação numa espiral assustadora. A empresa editora vem abrindo mão do controle de jornais menores em outros estados americanos e mesmo assim sua dívida não para de crescer. Já passa de um bilhão de dólares. Já vendeu sua sede e incorporou o milionário mexicano Carlos Slim como sócio. Nada disso tem assegurado tranquilidade à família controladora. Recentemente o The New York Times recuou e liberou o acesso gratuito quando buscado através dos sites de relacionamento, como Facebook, Twitter e outros. Foi uma decisão difícil. A instituição da cobrança online diminuiu drasticamente os acessos de visitantes. Até que ponto esta liberação pode comprometer todo o esforço de implantação do sistema de cobrança digital? Ainda não se tem a resposta. Um dado curioso é que todos esses grandes jornais já limitaram o acesso dos leitores no passado, só permitindo àqueles da base de assinantes. Depois de alguns poucos anos liberaram o acesso total e agora partem para essa experiência de clique. Quem marcha numa vertente contrária é o jornal THE GUADIAN, de Londres. Todo acesso é gratuito. O certo é que o velho modelo de venda de espaço publicitário mais circulação já não sustenta a velha mídia.

4 de agosto de 2010

AS PRESSÕES DA VELHA MÍDIA

publicado originalmente no site http://www.claudiohumberto.com.br 01/07/2010 Pressiona daqui, aperta por lá, escreve acolá e tenta influir em todas as esferas. No Legislativo, no Executivo e no Judiciário. A velha mídia não tem sossego mais. Na medida em que a ameaça da WEB vai se tornando realidade à agonia ganha expressão, principalmente na atuação da ANJ, Associação Nacional de Jornais, e da ABERT, Associação Nacional de Radio e Televisão. Estas duas entidades representam a expressiva maioria dos órgãos de comunicação, rádio, TV e jornais, da velha mídia. E através delas os barões da comunicação exercem seus poderes e influências especialmente em Brasília, onde esperneiam em todos os fóruns na desesperada busca de uma alternativa no sentido de parar o avanço da WEB, marcadamente no setor de produção de conteúdo. Onde se apresenta estas duas entidades citadas leia-se em destaque os grupos de mídia GLOBO, FOLHA DE SÃO PAULO, ESTADÃO E ABRIL. Esta é a que menos se expõe em função de já possuir em seu quadro societário a participação de capital estrangeiro, dentro das regras previstas pela constituição. Capital financeiro sul-africano adorna sua árvore administrativa. Juntos esses quatro grupos de mídia representam a expressividade do setor no Brasil e através das entidades de classe querem demarcar não só o espaço da WEB como a participação do capital estrangeiro na nova plataforma de comunicação.
Em nota divulgada recentemente em Brasília grifaram que “independente de plataforma a veiculação com fins comerciais de conteúdo jornalístico, sejam notícias ou esportes, enquadram-se nas determinações da Constituição que exigem o controle de empresas dessa natureza seja exercido por brasileiros”. Esse texto é basicamente a espinha dorsal do artigo 222 da Constituição brasileira escrita em 1998 quando ninguém seria capaz de prever o aparecimento de uma coisa chamada internet. Criado sob a inspiração dos grandes grupos de mídia nacionais e com o beneplácito aberto dos “coronéis eletrônicos”. Nos estados, concessionários daqueles, em sua maioria deputados e senadores ainda hoje no Congresso Nacional, estabeleceram uma reserva de mercado com a redação do artigo 222 da Constituição onde se trata da propriedade de empresas jornalísticas. Lá está explicito que “a propriedade de empresa jornalística e de radiodifusão sonora e de sons e imagens é privativa de brasileiro nato, ou naturalizado há mais de dez anos, ou de pessoas jurídicas constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sede no país”. Determina ainda o artigo que pelo menos 70 por cento do capital total e do capital votante pertençam a brasileiros. Em 2002 uma emenda constitucional foi aprovada no Congresso Nacional permitindo até 30 por cento de participação estrangeira no capital das empresas de comunicação.
O bombardeio não cessa, não só nas paginas e telas dos órgãos da velha mídia como nos corredores das comissões do Congresso Nacional onde tramita o Projeto de Lei de número 29, também conhecido como PL 29. Entre outras inovações este projeto remove as restrições ao capital estrangeiro e permite a entrada das teles na oferta de serviços de TV paga e produção e veiculação de conteúdos. E aqui mora a dor de cabeça que está virando enxaqueca sem cura para a velha mídia. O PL 29 não trata de radiodifusão ou internet e remove as restrições ao capital estrangeiro. E tampouco o artigo 222 da Constituição pode ser usado contra a produção de conteúdo, pois ele é claro com relação à radiodifusão e impressos. Tanto a ABERT quanto a ANJ lutam com todos os seus esforços para que o PL-29 atinja com seus itens e letras os sites e portais de internet que produzem notícias. A luta aqui é maior que a luta pela proibição de distribuição de conteúdo jornalístico, gratuitamente. Os “coronéis eletrônicos” querem de todo jeito manter a reserva de mercado ignorando a era da globalização. Ora sabem eles que o segundo round é mais fácil. Mas o primeiro, a produção de conteúdo para internet, é difícil. Podemos comparar a um tipo de censura a proibição que eles desejam para a nova mídia. Como eles farão para proibir o site da BBC em português? Como farão para proibir que um jovem estabelecido em território uruguaio, paraguaio, boliviano ou argentino (países fronteiriços) e com uma boa idéia possa invadir o território brasileiro produzindo conteúdo e distribuindo-o a partir do estrangeiro. Ou mesmo em qualquer outro lugar do planeta. A Internet não tem considerações por fronteiras, ela não é uma concessão do Estado, como emissoras de rádio e TVs e não goza das isenções tributárias que habita o setor de radiodifusão e impressos no Brasil.