20 de outubro de 2010

A ORDEM ESTABELECIDA ESTÁ SENDO BOMBARDEADA

publicado na coluna claudiohumberto.com.br
em  22/11/2010
16:28

Por Aleluia Hildeberto

Toda vez que tentamos substituir uma ordem estabelecida, a confusão é geral; tanto no sistema operacional de uma indústria quanto num sistema de distribuição e logística. Pode ser num sistema operacional de trânsito urbano ou até mesmo numa rotina doméstica. Não é fácil destruir a velha ordem estabelecida e substituir por uma nova. Normalmente isso se dá por saturação, por expansão, por novas conquistas, por conturbação e exigências (no caso de países muitas vezes pelas armas, ou pelo voto) ou simplesmente por inovação.
Em qualquer meio, quando isso acontece, trata-se de uma revolução. Toda revolução vem para substituir a ordem institucional vigente por uma nova. Dá muito mais trabalho substituir uma ordem estabelecida do que implantar uma ordem onde não existe nenhuma. Pela ordenação natural das coisas reformar uma velha ordem seria mais fácil que substituir a existente.
Nenhuma dessas premissas foi observada com o aparecimento da Internet. Ela surgiu do nada, como uma inovação tecnológica facilitando tudo que existia em nossas vidas. Apaziguou e se inseriu em todas as ordens existentes, tornando tudo mais fácil no nosso dia a dia. Mas no que diz respeito à velha mídia, ela surgiu como um furacão ensandecido sobre uma velha ordem confortável e estabelecida por mais de um século de existência. E pelo desenrolar dos acontecimentos até aqui, ela não deixará pedra sobre pedra no mundo da velha mídia. Onde não havia nada, com a sua criação estabeleceu-se uma ordem vigente.
Nenhuma biblioteca do mundo cobra para se fazer uma consulta. Em qualquer lugar o acesso ao livro é fácil e gratuito. Normalmente as bibliotecas são mantidas por instituições civis, por governos (universidades e escolas) ou empresas. Antes da internet para se chegar à biblioteca era necessária uma viagem, um deslocamento qualquer, ou mesmo uma simples caminhada. Depois vinha a burocracia para o acesso e só então você estaria diante das prateleiras, onde finalmente iria encontrar o livro desejado. Era assim. Com o advento da internet você passou a ter todas as bibliotecas do mundo em casa, sem burocracia, sem deslocamento e sem nenhum custo . Todas as versões e todas as edições do livro procurado estarão em suas mãos em questão de minutos, em todas as línguas, e de graça. E mais, as informações buscadas também estarão ao seu dispor, hierarquizadas, filtradas e enriquecidas num sistema de armazenamento fácil e descomplicado que nenhum livreiro ou bibliotecário jamais poderia imaginar no sistema WIKIPEDIA. E você ainda pode contribuir para o assunto com o que recolheu nos livros buscados. Toda a sabedoria do homem em suas mãos em questão de minutos.
Nesse caso, ela não destruiu a ordem vigente. Apenas hierarquizou e facilitou o acesso. Contribuiu com a inovação para reformar essa ordem vigente, tornando mais abrangente o convívio e mais leve a tarefa. Bom para todo mundo. Mas só sabe disso quem realiza pesquisas constantemente, quem leciona e quem pratica o jornalismo.
Mas quando se trata de meios jornalísticos, de venda de informação através de órgãos de mídia o arraso tem a força de um tsunami. A velha ordem está se destroçando cada vez mais a cada dia que passa. Há quem veja sinais de convergência nos vários tipos de mídia com a internet. E de fato existem exemplos aqui e acolá. Mas nada muito sólido, capaz de assegurar num futuro próximo, médio ou longínquo a sobrevivência de algum ramo da velha mídia tal qual a conhecemos hoje. O jornalismo praticado na internet pegou toda a velha mídia no contrapé. Quando ela surgiu, jornais, revistas e TV buscavam uma nova roupagem para a informação. Triunfava o modelo que privilegiava a opinião emitida pelos profissionais do jornalismo, muitas vezes em detrimento da própria informação e desconsiderando o tempo, o valor e a avaliação do ouvinte ou leitor.
Como a internet é um colosso midiático de bolso, estratificada, facilmente ela invadiu as fronteiras dos oligopólios e tornou desnecessários os investimentos financeiros pesados para transmissão de notícias. Incluiu o escutar e responder na pauta do jornalismo e tirou o leitor, ouvinte, telespectador da posição passiva. Em sua agonia, a velha mídia tem no seu encalço não só a nova plataforma, mas principalmente os governos. É cada vez maior o interesse e criatividade destes em aprimorar mecanismos destinados a controlar a velha mídia a socorrer com gordas verbas publicitárias, mas não consegue estabelecer um nível de convivência satisfatório. Eles vivem às turras. Por mais alinhado que seja um órgão da velha mídia, os governos nunca se dão por satisfeitos.
Então, a velha mídia, perdida, desnorteada e acuada, perde leitores, ouvintes e telespectadores. Aqui por perto de nós olhem para Argentina, Equador, Venezuela, Colômbia, Bolívia e alhures. Isso acontece, principalmente, por uma razão curiosa. Estes novos governos não mais se estabelecem por razões pragmáticas e não cultivam a passagem natural do poder em rotatividade professada pelo sistema democrático. Embora democráticos do ponto de vista eleitoral, esses governos modernos desejam a perpetuação no poder e pautam suas administrações e popularidade administrando a informação e contra informação, e usando a velha mídia como veículos parceiros, emissores de suas políticas. Cultivam a popularidade administrando a guerra psicológica da informação, desinformação e contra informação, princípios básicos dos aparatos das agências de inteligência, em cuja cartilha se inspiram e se orientam.
Trata-se de uma versão moderna da forma maquiavélica de exercer o poder. E assim, em comunhão com as mídias, manejam a opinião pública com eficiência e destreza. Despreparada para esses novos tempos e dependente das verbas publicitárias, a velha mídia não questiona e veste como jornalismo toda a ação de qualquer governo em busca de popularidade. Quando um jornal, revista e quase nunca a TV, erra o paço dessa dança, desanda o caixa e tremem os alicerces de seus negócios. E governos têm uma série de instrumentos, além do dinheiro para buscarem alinhamento.
Essa técnica de divulgação nasceu depois da Segunda Guerra Mundial com a Guerra Fria. Alinhados em blocos ideológicos, nos bastidores, o mundo assistia ao embate da guerra de informação forjada pelas agências de inteligência. A mídia acompanhava livremente esse embate, e frequentemente desmascarava tanto um lado quanto o outro. Com a nova ordem política mundial imposta pelo fim do muro de Berlim e a bonança econômica proporcionada pela civilização do petróleo e do consumo, os partidos e os políticos, ou mesmo revolucionários como Hugo Chaves, sacaram a brecha por onde poderiam entronizar a permanência no poder, direta ou indiretamente. Isso começou na Europa Ocidental e só depois, muito depois aportou aqui nos trópicos.
Mas esse desejo desenfreado de manejar a opinião pública via velha mídia tem seu preço e asfixia os veículos com o contínuo desinteresse despertado pelas ações governamentais estampadas com assiduidade nas primeiras páginas ou nos programas de TV. Casos como o da Venezuela merece um estudo a parte, já que a velha mídia está quase toda estatizada. E no meio disso tem a internet. Sem um modelo de negócio estruturado e com uma arquitetura dinâmica de divulgação ela, se torna insuperável, impossível de administrar e censurar. Ágil, interativa e com uma estrutura simples e barata, ela está imune a controles de governos. Eles podem retardar o embate evitando a banda larga, tarefa impossível diante das necessidades da economia e da vida moderna.

13 de outubro de 2010

A MORTE DA WEB. SERÁ?

A MORTE DA WEB. SERÁ? Pois é essa a novidade dos profetas do mundo digital. Ou melhor, é o que eles desejam: uma nova WEB, talhada de acordo com seus interesses. Ela seria fechada, na base dos aplicativos. Você passaria a navegar em canais fechados e recebendo somente aquilo que os senhores do universo determinam. Como acontece com a velha mídia. Será isso possível? Esses intérpretes que anunciam os novos tempos são homens tão criativos e poderosos que é bom prestar atenção neles. Só ficar de olho como se diz; a crer cegamente é melhor esperar. Berners (inventor da WEB), Jobs (Apple), Ballmer (Microsoft), Bezzos (Amazon), Schmidt (Google), Zuckerberg (Facebook), Gates (Microsoft), Tomlinson (inventor do @ e do software básico de navegação), cada um desses sobrenomes nomeia criações e representa interesses de bilhões de dólares anuais, possibilitados por suas descobertas e aplicações no nosso dia a dia que tornam nossas vidas mais fáceis e prazerosas. Democratizaram o acesso à informação, possibilitaram a revolução mais profunda que a vida do homem já experimentou sobre a terra com essa coisa chamada Internet. Chega a ser assustadora a velocidade com que criam, industrializam e comercializam suas ideias traduzidas em produtos e serviços. Com sagacidade souberam adequar suas invenções à produção industrial e superaram séculos de criação e produção. Uma década já está sendo um prazo longo para nascerem, prosperarem e desaparecerem empresas globais, colossos de faturamento e inovações. Quem se lembra hoje da American Online, a AOL? Mas ela ainda existe. Nem de longe conserva o estupendo faturamento e o musculoso veio de criação que já foi um dia. Seu lugar está ocupado por meia dúzia de outras feras inovadoras como o Google, por exemplo. Se o marco da industrialização e a consequente disseminação do gozo de seus efeitos levou pouco mais de cem anos para estar na vida de bilhões de pessoas, o mundo digital, com sua velocidade supersônica leva meio décimo disso para se recriar e estar na vida de todo mundo. Uma dúzia de nomes no mundo digital movimenta em torno deles valores superiores ao de um PIB (Produto Interno Bruto) de fazer inveja a qualquer grande economia do mundo. Com esse formato, implantaram e disseminaram nos quatro cantos do globo suas ideias e projetos. E todos eles na América. Pois são esses caras, precisamente eles, que estão possibilitando a alguns a interpretação de que a WEB vai morrer. A mesma WEB que sepultou o mundo do disco, do CD e DVD, a mesma WEB que fere de morte o mundo da mídia impressa, que assola feito um furacão o universo do livro, que tirou da TV a coroa de rainha do mundo da comunicação, ela mesma, está agora diante de seu funeral. Mas como isso pode acontecer? Um desses arautos dos novos tempos é a revista americana WIRED, uma publicação do grupo Rupert Murdoch e estrela do jornalismo digital no mundo. Neste mês de outubro de 2010, ela traz como matéria de capa o diagnóstico de que a morte da WEB está próxima. O coquetel de veneno a lhe ser servido se desenrola nos laboratórios do mundo dos aplicativos fechados. Para se entender melhor como isso funciona pode-se explicar que a Internet (rede internacional) foi criada para interligar os computadores do Pentágono ao aparato militar americano em 1968. A rede interna do Departamento de Defesa em 1972 ganha o seu primeiro software básico de email para uma rede chamada Apanet. Foi aí que um sujeito chamado Ray Tomlinsom, nascido em Amsterdam e naturalizado americano, engenheiro de formação, criou o símbolo @ possibilitando a ligação da interface gráfica com formato de endereços que organiza e transmite dados numa leitura universal. A Internet passou a ser o duto, ou a veia principal por onde transita o combustível, o sangue que lhe proporciona vida, A WEB, World Wild Web que em português quer dizer rede de correio eletrônico de alcance mundial foi inventada por Tim Berners-Lee, físico inglês no ano de 1992. A junção desses dois inventos é que veio proporcionar a revolução digital. É pela WEB que transitam os browsers (navegadores). Baseado no fato de que nos Estados Unidos a maioria dos usuários estão migrando do desktop (o PC fixo) para os dispositivos móveis, ela estaria cedendo terreno para os APLICATIVOS em celulares como iPhone e BlackBerry ou em Tablets (computadores de mão) como o iPad. As chamadas redes sociais com seus milhões de usuários também ameaçam. Só para se ter uma ideia aqui no Brasil somos 36 milhões de usuários do Orkut, disparado a rede campeã, chegando a ter num único dia 29,4 milhões de acessos. Em segundo lugar vem a rede Windows Live, o Messenger, com 12,5 milhões de usuários e em terceiro o Facebook com 8,8 milhões. Além dessas redes sociais, nos Estados Unidos é cada vez maior o número de pessoas que aderem aos dispositivos móveis. Assim, o navegador da internet, a WEB, perderia o seu reinado para os aplicativos fechados como o iTunes, da Apple e o Kindle Store da Amazon. Se assim for, aqueles nomes elencados na abertura desse artigo passariam a dominar o mundo, cada um com sua rede fechada e seu respectivo aplicativo como acontece com a TV, com o rádio e a mídia impressa. A grande vantagem da WEB é exatamente o fato de não ser necessário possuir um programa específico para leitura ou envio de mensagens de correio eletrônico. Qualquer computador ligado à internet é suficiente. E não é necessário usar o mesmo computador. Depois da criação de Tomlinson é que foi possível surgir todos esses inventos e empresas que hoje ameaçam o fim da WEB, baseados nos estudos da empresa americana TNS, onde se atesta que os usuários de dispositivos móveis usam 1,5 mais as redes sociais do que o tempo gasto respondendo a e-mails. Essa também seria a solução encontrada por estes senhores para enterrar os browsers (navegadores) onde ninguém paga por nada e obrigarem as pessoas a pagarem pelos aplicativos. Diante da ausência de um modelo de negócio consolidado para a internet essa alternativa pode vir a ganhar força e vingar. Mas por enquanto isso é um sonho apenas.