16 de janeiro de 2011

EVOLUÇÃO

publicado na Coluna Claudio Humberto
Segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011.
Por Aleluia, Hildeberto

Primeiro foi no Irã, país de governo forte, ditatorial, auxiliado e governado também por uma teocracia conservadora e cruel. Censura por toda a parte não foi suficiente para inibir o poder da internet de disseminar entre a população um susto sem precedentes no regime. Isso no ano passado. Agora foi em quase todo o Oriente Médio. Até mesmo no Iêmen, uma pequena e desassistida república socialista e islâmica, no sul da Península Arábica, banhada pelo Golfo de Áden e pelo Mar Vermelho. Índices cruéis de analfabetismo, mortalidade infantil assustadora e uma curiosidade: mulher tem direito a voto. E lá também foi localizada uma das mais poderosas células da Al Qaeda. Sem a internet seria impossível tantos países, de uma só vez, terem suas populações mobilizadas em torno de ideais democráticos e contra as tiranias estabelecidas no Poder por décadas. O que mais ficou evidente nesses casos é que os governos perderam a batalha da contrainformação. O século XX coroou um tipo de déspota que para evitar uma revolução, golpe de estado, insurreição ou meros protestos seus governos agiam também através de suas agências de informações e com o aparato de inteligência incrustado nos meios de comunicação. Disseminando versões e sustentando pontos de vista calcificavam uma corrente de pensamento e descia o porrete na massa, inválida e desnorteada. Quando não era assim, bastava um líder carismático pelas ruas arrastando uma multidão ensandecida, ensanguentada ou não ,como o Nasser no Egito, Mossadegh e Khomeini no Irã (veja embaixo os periodos que governaram) e numa única caminhada tomava posse do palácio presidencial.
A internet mudou tudo. Já não se sustentam os governantes com suas versões na velha mídia, tradicional (sempre sócia dos governos) como foi o caso do governo Murbarach, no Egito. A WEB dissemina mais rápido. Torna as pessoas solidárias e segmenta alianças em minutos. Faz entre a massa o que os guerrilheiros ou líderes levavam décadas para construir com armas, intimidações e dogmas. E não acolhe versões sem a contestação imediata. É isso que tem levado multidões às ruas nesses regimes fechados. Não há um líder em pessoa. O líder é a WEB, com sua corrente libertária. Isso não significa que o governo que venha possa ser melhor que o estabelecido. Ainda mais no Oriente Médio onde a lealdade ao Islã costuma turvar as consciências. Mas os métodos de sustentação terão que ser outros. A WEB irmana na torrente de mensagens, mas não unifica na forma do pensamento. Ela dissemina informação e mobiliza multidões enquanto tiranizadas. É a mesma WEB que fragmenta o tecido social e cultural após o objetivo conquistado. É assim que ela sinaliza e impõe a democracia. Depois de uma avalanche social e política dessas, ela impõe a estratificação, a diversidade, as múltiplas correntes de pensamento. Liberta a massa unificada. Os grupos se articulam para sobreviverem de acordo com ideais e pensamentos diversos. A convivência em busca do consenso pelo dissenso é a democracia. O contrário é outra tirania sob a égide de outro déspota. Mas com censura e com a WEB. Como diz o jornalista Nicholas Carr, autor de A Grande Mudança “os governos já começaram a partilha do mundo on-line de acordo com antigas linhas divisórias geopolíticas, como também os regimes autoritários estão começando a se dar conta de que a Internet talvez não represente uma ameaça tão grande a seu poder quanto pensavam no começo. Embora a Net ofereça às pessoas um novo meio para descobrir informações e expressar opiniões, também oferece aos burocratas uma ferramenta nova e poderosa para controlar a liberdade de expressão, identificar dissidentes e disseminar propaganda” arremata ele. Finalizando lembra que na China, qualquer um que suponha que pode atuar anonimamente na WEB expõe-se a perigos muitos maiores que o constrangimento. O que é a mais absoluta verdade. Viver hoje em algum lugar do mundo, com algum esclarecimento, sem a internet, nem pensar. Imagine o mundo sem internet por 48 horas. Na China, no Irã, na Arábia Saudita, na Venezuela e em Cuba há um tipo de evolução fermentando na cabeça das pessoas, levada pela onda do www e cujo desfecho ainda estamos longe de uma previsão.

Gamal Abdel Nasser
militar egípcio, presidiu o país de 1954 até sua morte (28 de setembro de 1970).
Aiatolá Sayyid Ruhollah Musavi Khomeini
Primeiro mandatário do Irã
Chefe Supremo da Revolução
de 3 de dezembro de 1979 a 3 de junho de 1989
Mohammed Mossadegh
Mossadegh foi eleito 1º Ministro em 1951
governou até 1953
Aleluia, Hildeberto é jornalista.

9 de janeiro de 2011

Livros Eletrônicos

publicado no portal da annaramalho.com.br
Qua, 02 de Fevereiro de 2011 14:49 Aleluia, Hildeberto

Um bilhão de dólares, isso mesmo, um bilhão, foi quanto vendeu em livros eletrônicos a indústria editorial americana no ano passado. Somente a Amazon (a maior livraria do mundo) vendeu mais livros digitais que impressos informam eles. Dizem mais, que no primeiro semestre de 2010 para cada cem livros impressos venderam 143 livros digitais. No segundo quando as vendas dispararam foram vendidos 180 livros digitais para cada cem livros impressos. Na noite de Natal o concorrente da Amazon, a gigante Barnes & Noble informou que os consumidores americanos compraram ou fizeram download de um milhão de e-books. O mercado editorial americano planeja um faturamento em livros eletrônicos no ano de 2015 em torno de três bilhões de dólares. Jeff Bezos o fundador da Amazon profetiza o fim do livro impresso e exalta o fato de sua empresa vender um e-book por 9,99 dólares em plena era dos downloads. De olho nesses números e assustadas com as projeções as editoras brasileiras se movimentam. No final do ano que passou um grupo formado pelas editoras Objetiva, Record, Sextante, Intrínseca, Rocco e Planeta (praticamente as maiores) se uniram e criaram a Distribuidora de Livros Digitais (DLD) e almejam um faturamento de 12 milhões de reais para este ano de 2011. Trabalham com a perspectiva de preço 30 por cento mais barato que a edição impressa. É apenas o primeiro golpe que a internet desfecha no setor editorial de livros. Na área de mídia este setor foi um dos últimos a ser atingido. Ninguém acreditava que isso fosse possível. Mas o tiro foi certeiro. Começa a agonizar a indústria do livro impresso.
Facilidade de pesquisa, baixo custo, portabilidade e gratuidade, em alguns casos, são os principais estímulos para o consumo da engenhoca que materializa o livro eletrônico. Também conhecido como e-readers. Ou ainda leitores eletrônicos. Trata-se de um aparelho de leitura digital eletrônica de textos variados, como livros, jornais e algumas páginas da internet, principalmente blogs. Ele poderá ter 1,4 GB de memória e já vem com HD interno e com um modem 3G ou oferece conexão por Wi-Fi para download de conteúdo. Os e-readers usam uma tela que reflete uma luz, “papel eletrônico”, oferecendo conforto na leitura. Essa é a máquina onde cabe o e-book que vem a ser o livro eletrônico, ou livro virtual ou digital. Cabem lá três mil e quinhentos livros no modelo de ponta. Foi inventado em 1971 pelo americano Michael Hart. As vantagens do e-book comparado ao impresso são infinitas, fora a aterradora possibilidade de ouvi-lo ao invés de ler. Basta que se adicione um MP3 com software apropriado e a leitura será convertida em áudio. E você terá o áudio-book.
O mercado brasileiro está inundado de marcas diferentes de e-readers. Cerca de uma dezena estão à venda por aí e algumas poucas já são fabricadas no Brasil. Os preços variam muito desde o mais barato, em torno de 350 reais até o mais caro, por volta de dois mil reais. Enquanto o e-book muda substancialmente a relação do leitor com o livro as relações econômicas das editoras e autores também sofrem mudanças radicais. Segundo levantamento realizado pelo Wall Street Journal um livro de capa dura de 28 dólares rende a metade desse valor para a editora e 15 por cento para o autor, algo em torno de quatro dólares e vinte centavos. Segundo ainda o jornal americano um livro digital é vendido por 12,99 dólares, em média, rendendo 70 por cento à editora e geralmente 25 do valor total, 2,27 dólares para o autor. Este fatura com a venda de um e-book pouco mais da metade do que obteria com a venda de um livro impresso. Segundo Albert Greco, consultor editorial nos Estados Unidos, as vendas de livros impressos tiveram seu auge por lá em 2008 com 1,63 bilhão de unidades vendidas excluindo a área técnica e educativa. Ele estima que essas vendas caíam para 1,47 bilhão este ano de 2011 e para 1,43 bilhão em 2012. Já as vendas dos livros eletrônicos vêm dando saltos olímpicos. Cresciam a uma média de três a cinco por cento até o ano de 2009, evoluíram cerca para 10 por cento em 2010 e atingirão 25 por cento do mercado, ou mais, em 2012. É o que calculam os especialistas. Calculam também que os preços menores dos e-books resultarão em vendas cada vez maiores no futuro. Não esqueça que as vendas na Amazon.com já são quase de dois livros eletrônicos para cada um impresso. Nem tanto pelo aparecimento dos e-books o certo é que todas as grandes livrarias americanas estavam rumando para a concordata. Algumas batiam à porta da falência, como a Barnes & Noble com milhares de lojas pelo país afora. Isso por conta do aparecimento da internet e da crise financeira que assola os Estados Unidos.
Mas se este cenário descrito parece aterrador para o livro impresso prepara-se para o golpe de morte. O gigante Google entrou no negócio com a Google Editions que lança o Google Books. Como tudo no Google é gigantesco, eles acreditam que possuem a maior biblioteca do mundo e anunciam uma parceria com quatro mil editoras americanas disponibilizando, de cara, três milhões de títulos, gratuitos. Esse número é duas vezes maior que o acervo da Amazon e Noble juntas. Eles afirmam que já digitalizaram 15 milhões de livros em quatrocentas línguas diferentes. Prevêem para o ano de 2015 que o número de e-readers nos EUA baterá na casa de 30 milhões de usuários. Não satisfeito o Google através de seu porta-voz afirma que o plano é digitalizar todos os 150 milhões de livros que existem no mundo e torná-los acessíveis aos usuários da sua ferramenta de busca e pesquisa que atrai, diariamente, um bilhão de usuários no mundo todo. Ao contrário das outras livrarias eletrônicas o Google criou um sistema que permite ao usuário comprar o livro de qualquer editora e ler em qualquer aparelho e-readers.
Façam suas apostas senhores!
Aleluia, Hildeberto é jornalista