7 de julho de 2014

NATALIDADE NO BRASIL ( V )

Para corroborar argumentos que justificam o desleixo, o pouco caso, ou mesmo o abandono da educação no Brasil, dois fatos recentes acontecidos na cidade do Rio de Janeiro: O primeiro no Colégio Pedro II outrora uma referencia no ensino publico fundamental e de segundo grau no País. Cabeças coroadas do Brasil e de sua elite dirigente da última metade do século passado estudaram lá.

Se você quiser saber em detalhes a situação atual busque o jornal O GLOBO (www.oglobo.com.br) de 18 de junho de 2014 à página 32 no caderno de economia. Uma foto fala por si: uma unidade no bairro de São Cristóvão, a de ensino fundamental, foi interditada pela Defesa Civil. Ameaça de desabamento. Quinhentos alunos do ensino fundamental prejudicados. Em outra unidade, a do Humaitá, alunos do 6º ano do ensino fundamental estão sem acesso aos livros didáticos de Português, Matemática Ciências, História e Geografia. Deveriam ter sido distribuídos em fevereiro de 2014. Em junho ainda não haviam chegado. A matéria conclui que “uma visita a qualquer das 14 unidades do Colégio basta para concluir que todas elas necessitam de obras de infraestrutura com urgência”. Mas não é o suficiente. Os professores entraram em greve. Na mesma data o STJ ( Superior Tribunal de Justiça ) em Brasília, considerou a greve ilegal. Quem julga o descaso do Estado para com a educação? Ninguém. Quanta injustiça!

Se o exemplo acima não basta faz-se como o ex-governador do Rio, Sergio Cabral. Há pouco tempo ele inaugurou no subúrbio da cidade do Rio de Janeiro a Escola Rodolfo Fernandes. Era para ser modelo. Aulas em período integral, computadores nas salas, ar condicionado e aparência de escola de primeiro mundo para mil alunos.

Como o nome da escola é uma homenagem a um executivo das organizações Globo, morto recentemente, toda a mídia do Rio de Janeiro lá estava. O aparato moderno e confortável foi só para a pose nas fotos de inauguração. No dia seguinte os agentes do Estado foram lá e retiraram tudo. Farta publicação sobre o assunto está no jornal O Estado de São Paulo.Vale a pena ler a edição (www.estadão.com.br ) de 10 de abril de 2014. A matéria é uma moldura da educação brasileira nos vários depoimentos dos professores. Um deles diz lá que “ nem todas as turmas tem todas as aulas”. Outro diz que nem sempre tem almoço para todos, alguns banheiros estão entupidos e a biblioteca não tem livros. Os poucos que existem amontoam-se num carrinho de supermercado.

O erro começou na idealização. Escola para mil alunos exige administração e orçamento de uma pequena cidade. E se a administração falha o resto vai para o brejo. Ao que parece esqueceram de uma boa administração lá.

NATALIDADE NO BRASIL (IV)

Relembre a cobertura das TVs sobre tragédias urbanas nas cidades brasileiras. A vítima que aparece dando entrevista é quase sempre uma mulher com um filho no colo e uma prole considerável em volta.

Só se tem noção da extensão desse país de miseráveis quando se anda de helicóptero, por cima. É um mar de casebres, esgoto a céu aberto e gente, muita gente. Somente a cidade do Rio de Janeiro tem mais de mil e duzentas favelas. O Estado finge que não vê, e a cada dia tem mais uma “casinha” sendo feita.

Não é mais a migração interna que vai para as favelas. Agora é quase que exclusivamente os descendentes dos favelados. Outro fato perturbador: a favelização já não é um privilégio das grandes cidades. No interior, nas pequenas e médias cidades o índice de favelização é crescente.

Com a distorção educacional, social e econômica própria do Brasil, não haverá economia que suporte esses índices de natalidade. O país tem gente demais e no entanto falta mão de obra especializada. Agora mesmo o Sindicato dos Proprietários de Caminhões de Carga diz que há vagas para cem mil motoristas de caminhões. Não se encontra no Brasil. Está indo buscar no exterior.

Isso não impede o IBGE ao justificar a atual taxa de natalidade do Brasil afirmando em seus relatórios que “a nossa taxa de natalidade está relacionada ao processo de urbanização, que gera transformações de ordem sócio-históricas e cultural da população. A instituição de métodos contraceptivos, melhores condições médicas e um aumento no nível de educação também se relacionam com a atual quantidade de filhos tidos pelas mulheres no Brasil em suas regiões”. Ele deve estar se referindo às classes das faixas A e B da pirâmide. Só pode ser. Porque lá embaixo, na base é uma tragédia.

Esse outro Brasil é o que nos coloca no numero 85 do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) criado pela ONU (Organização das Nações Unidas) para medir os índices de desenvolvimento das nações. Nosso índice de analfabetismo é considerado em 10 por cento da população. Em algumas regiões do país este índice sobe para vinte. Ainda segundo a ONU das 50 cidades mais violentas do mundo, 16 estão no Brasil. Das 10 mais violentas, três estão aqui.

Violência, crimes, roubos e assaltos não é mais privilégio dos grandes centros. A droga toma conta das pequenas cidades e com ela o flagelo dos jovens na criminalidade. Os números são assustadores. Morre mais gente em terras brasileiras, vítimas de violência, que em três países em guerra: Iraque, Síria e Afeganistão. Os políticos fecham os olhos. Vão rolando a bola. E alguém diz: chame a Polícia. Coitada da Polícia. Querem dela uma solução que cabe aos políticos e lhes falta coragem para agir.

Na respeitável revista inglesa The Economist da primeira semana de junho de 2014 dois professores, tiveram seu estudo sobre natalidade publicado. Eric Striesssnig e Wolfang Lutz, da Universidade de Economia e Negócios de Viena e Instituto Internacional de Analise de Sistemas Aplicada, em Laxemburg, Áustria, argumenta que “ao predizer as taxas de dependência (o numero de crianças e pensionistas comparado a pessoas em idades produtivas) a educação também deveria ser considerada uma vez que, nem todas os que estão em idade produtivas contribuem igualmente para apoiar a população dependente. Pessoas mais preparadas são mais produtivas e saudáveis, se aposentam mais tarde e vivem mais”.

NATALIDADE NO BRASIL ( III)

pesquisas e estatísticas são feitas, lidas e comentadas de acordo com as conveniências de quem as fizeram ou de quem as encomendou. Mas podem ser lidas e interpretadas de acordo com a realidade dos fatos. E os fatos nunca mentem. Mesmo para aqueles que desejam agredi-los. Senão vejamos:

Imagine uma pirâmide e a divida em três partes: A, B e C. Em cima da pirâmide estará à classe A, considerada como rica, informada, letrada e em condições de sustentar e educar convenientemente quantos filhos deseje. Pois saiba que no Brasil no topo dessa pirâmide imaginária a taxa de natalidade é uma das menores do mundo. Nessa parte da pirâmide calculo que estejam alojados de 10 a 20 milhões de brasileiros.

Descendo a pirâmide você vai para a faixa B onde se encontra a classe média, arremedados e outros. Essa parte, já bem maior que a primeira. Calculo , algo entre 40 e 60 milhões de pessoas. Aqui a taxa de natalidade sobe um pouco, mas nada que signifique mais que dois filhos por mulher. Essas duas faixas da pirâmide podem.

Apesar de não existir tanto dinheiro e posses quanto na faixa A, a faixa B também tem informação e cultura e sofre o diabo para ter acesso à saúde boa, saneamento, educação de qualidade e lazer. Nesta faixa B as pessoas se sacrificam, fazem esforços inimagináveis para educar e formar seus filhos; prepará-los para a vida; para o trabalho; para torná-los responsáveis e contribuintes da nação. E há excelentes escolas. Mas custam caro. No Brasil é assim: o que é bom é bom mesmo, mas para poucos. E o que é ruim, é muito ruim para muitos.

Ao descer mais um pouco você estará na faixa C. Nesta está concentrada o grosso da população brasileira. Calculo que seja muito mais de 100 milhões de brasileiros. São os considerados pelas estatísticas habitantes das classes C, D, E por adiante. São os pobres. Pelas estatísticas do IBGE atual são chamados de “nova classe média”.

Ganhou mais de mil e duzentos reais por mês é considerado por eles como classe média emergente. Imagino que eles não saibam que a verdadeira classe média, aquela da faixa B da pirâmide, paga por filho, da creche ao segundo grau, por mês, numa boa escola, uma mensalidade maior do que ganha de salário a chamada “nova classe média” cujos filhos vão para a escola publica.

Lá, já sabemos como funciona. Professor ganha mal, não tem acesso a reciclagem, a escola não tem carteira; não tem ar condicionado;os banheiros estão em estado de calamidade; os livros nunca chegam; o computador vive pifado; a grande maioria delas funciona meio período apenas e muitas vezes não tem vagas.

NATALIDADE NO BRASIL ( II )

O Brasil é realmente um país diferente. Já sabemos e vimos aqui que no primeiro mundo, com população esclarecida e afortunada, é cada vez maior o número de pessoas que não desejam ter filhos. Vimos que governos de algumas dessas nações fazem esforços com estímulos financeiros compensadores para que as pessoas tenham filhos. É o caso dos países nórdicos, por exemplo. Aqui entre nós, dos anos 90 do Século passado em diante, a política de todos os governos foi e é de estímulo à natalidade. 

Nossa taxa de nascimentos por ano (em torno de 1,8 por cento) segundo o Instituto de Geografia e Estatística (IBGE) a única entidade no País apta a fornecer números sobre o assunto, são idênticas às taxas de natalidade das nações do primeiro mundo e menor que a taxa de natalidade dos Estados Unidos, em torno de 1,9 por cento. A mesma taxa da Austrália. Dito ou lido assim parece pouco. Mas não é. Isso significa por ano o nascimento de mais de três milhões de brasileiros. É um Uruguai por ano. É mais que uma Venezuela (27 milhões de habitantes) inteira e quase uma Argentina (35 milhões de habitantes) a cada 10 anos.

Assim se mascara e se ignora um dos mais dramáticos e desesperadores problemas brasileiros: o estímulo à natalidade como política de governo na base da pirâmide social. A renda per capta, a saúde, a educação, a infraestrutura, saneamento, hospitais públicos, previdência e a qualidade de vida dos países desenvolvidos não dá para comparar com a nossa.

NATALIDADE NO BRASIL ( I )

Um casal bem informado planeja o numero de filhos de acordo com seus desejos, disponibilidade e condições financeiras para criá-los. Uma mulher atenta e esclarecida que planeja uma produção independente tem em mente, em primeiro lugar, a sua condição financeira para educar e formar o seu filho. Os países desenvolvidos, e até alguns que não estão no grupo, como o Uruguai, por exemplo, agem da mesma forma. Leva em conta o controle da taxa de natalidade para planejar sua economia e ao mesmo tempo disponibilizar segurança, educação, saúde e outros itens básicos para uma sobrevivência decente e confortável.

Desequilíbrio na taxa de natalidade afeta países ricos e pobres. Equilíbrio na taxa de natalidade todos os países do primeiro mundo buscam. A China só é que o que é hoje em dia porque, entre outras razões, levou mais de 50 anos para atingir o que eles consideram uma taxa de natalidade equilibrada. Com mão de ferro o Estado chinês ainda na década de 1960 do Século passado instaurou a política de um filho por casal. Mesmo assim e com todo o colosso de sua atual economia, o país ainda tem cerca de 800 milhões de pessoas fora do alcance do atual boom econômico. Os chineses são mais de um bilhão e trezentos milhões de pessoas. Mais de seis vezes a população do Brasil.

Conseguiu instaurar a segunda economia do planeta investindo primeiro em educação, segundo em educação de qualidade e um ferrenho controle na taxa de natalidade. Hoje, sua taxa de natalidade está em torno de 1,5 por cento. Seguiu a receita histórica dos países de primeiro mundo. A diferença é que no primeiro mundo quem controla a natalidade é o casal ou o interessado em ter filhos e com o apoio do Estado. Na China é a mão de ferro do Estado e com penalidades. Em menos de 30 anos conseguiu um feito histórico: retirar da pobreza e da miséria 400 milhões de chineses e se tornar a segunda maior economia do mundo. O controle da taxa de natalidade foi um dos elementos básicos.

Dizem os estudiosos que uma cultura começa a declinar quando sua taxa de natalidade atinge o índice de 1,3 por cento sobre o total de sua população. Dizem ainda que ao atingir este índice é quase impossível reverter o declive e vai levar de 80 a 100 anos para o equilíbrio. Dizem mais: que nenhuma cultura sobreviveu abaixo desta taxa de natalidade.

Peguemos a Áustria como exemplo para um raciocínio. Sua taxa de natalidade nos dias de hoje está em torno de 1,3 por cento para um total de 8,5 milhões de habitantes e crescendo, portanto, a uma taxa de 0,5 que significa menos de quinhentos nascimentos por ano. O Estado austríaco busca, incessantemente, políticas de estímulo à natalidade que vai desde a doação em dinheiro, equivalente a 10 mil dólares, e mais a metade por mês durante certo tempo para os casais que tenham filhos.

Mesmo assim não são todos os casais que querem ter os filhos que o Estado deseja e necessita para que a nação não desapareça. Trata-se de uma pirâmide social altamente aculturada e homogênea em termos econômicos. Um filho significa dedicação total, privação de liberdade e alta responsabilidade na formação. Nem todo mundo está disposto ao sacrifício. O mesmo se sucede em outros países europeus.

Já a Suíça tem uma taxa de natalidade de 1,52 por cento e sua população de 8 milhões de habitantes cresce 1,1 por cento ao ano. A Austrália com pouco mais de 22 milhões de habitantes tem uma taxa de crescimento de pouco mais de 1,5 por cento ao ano. A Noruega, com pouco mais de 5 milhões de habitantes é considerada o melhor país do mundo em termos de IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) método da Organização das Nações Unidas (ONU) que mede a qualidade de vida no mundo, e a maior renda per capita com 82 USD (82 dólares por habitante) e sobrevive com taxa de natalidade de poucos mais de 1,5 por cento ao ano. Nestes países europeus o índice de analfabetismo é zero e os estados incentivam ao máximo o nascimento de filhos.

Já os estados Unidos, a maior economia da terra com um PIB (Produto Interno Bruto) de mais de 15 trilhões de dólares e uma população de 315 milhões de habitantes, tem uma taxa de natalidade em torno de 1,9 por cento. Dez das melhores universidades do mundo estão lá. Os Estados Unidos e esses outros países aqui citados são considerados por muitos como a terra das oportunidades para os estrangeiros. Atingiram tal ponto de desenvolvimento que o trabalho considerado como subemprego, tais como faxineira, babá, pedreiros, pintores de paredes e outros afins são desempenhados por imigrantes. Os filhos da terra recusam. Na Europa desenvolvida também. Ela tem uma taxa de natalidade em torno de 1,9 por cento ao ano com sua população crescendo em cerca de um por cento ao ano.

Com seus 315 milhões de habitantes os Estados Unidos, como nesses outros países citados acima, seus níveis de educação e de educação de qualidade são invejáveis. E não existe a hipótese de criança ficar sem escola e mais tarde não ter acesso à Universidade. Oportunidades não faltam. A meritocracia é a regra. Para quem não recusa trabalho é o paraíso para os estrangeiros.

Indo para a África, a subsaariana então é um verdadeiro Deus nos acuda.

A Somália com seus 10 milhões de habitantes tem taxa de natalidade de 6,8 por cento ao ano. É um dos países mais miseráveis do mundo, assim como a Nigéria onde a taxa é de 7,6 por cento ao ano para uma população de 168 milhões de habitantes. Em Uganda, com 36 milhões de habitantes a taxa é de 6,1 por cento ao ano e no Burundi é de 6,2 por cento para 10 milhões de habitantes. O pequeno Chade com 12 milhões de habitantes também é um campeão de natalidade. Sua taxa anual está hoje em 6,5 por cento. São os reinos da fome, da miséria e das doenças. Já na Ásia, o campeão é o Afeganistão com 30 milhões de habitantes e taxa de natalidade de 5,4 por cento ao ano.

Chegando aqui na nossa América do Sul vamos direto para a Argentina, antes de chegar ao Brasil. Los portenhos possuem 41 milhões de habitantes e uma taxa de natalidade em torno de 1,5 por cento ao ano. A Colômbia tem 47 milhões de habitantes e uma taxa de 1,7 por cento. E o Chile, o pequeno Chile, tem pouco mais de 17 milhões de habitantes e sua taxa de natalidade anda pela casa de 1,5 por cento ao ano.

A próxima parada é o Brasil