11 de junho de 2016

Tributo a Michael Koellreutter

Foi-se nosso Micha. Foi-se um dos meus baianos prediletos. Dono de um sobrenome de príncipe bávaro e de um texto sarcástico composto por adjetivos certeiros e substantivos de toneladas, sabia ser ferino e lúdico quando a situação requeria. Incansável trabalhador, buscava inovação em todos os projetos que se meteu na vida. De temperamento alegre e afável esse baiano de Salvador conquistou o respeito profissional numa legião de feras do jornalismo de São Paulo e do Rio de Janeiro. Jamais transigia com a verdade. Sabia como ninguém tornar situações dramáticas em hilárias nos seus textos enxutos e prazerosos.

Nos anos 90 frenquetávamos o Hipoptamusss em madrugadas divertidas nos domínios do Ricardo Amaral. Minhas vacas eram gordas. Dividíamos a garrafa de uísque no bar do Hipo relembrando histórias da Bahia e vez por outra na companhia do João Luiz Albuquerque, do Palmério Doria, do José Mário Pereira, do próprio Amaral, Carlos Doce Lar , Fred Sutter e muitos outros. Quando minhas vacas ficaram magras ele foi generoso na retribuição.

Gostava e sabia comandar uma redação. Ávido por uma boa reportagem costurava uma matéria de capa a partir de uma simples informação de mesa de restaurante Assim ele deu cara e corpo ao seu projeto pós Intervew, acho que era a revista Caros Amigos. Me disse que gostaria de imprimir no seu projeto editorial a marca de uma revista de amenidades e ao mesmo tempo de política e economia, com sabor e seriedade. Queria minha colaboração. Disse-lhe que não tinha tempo para uma empreitada dessas. Na bucha ele devolveu:

-você vai ser meu pauteiro.

E assim foi. Durante vários anos almoçávamos aos domingos, eu, ele, Fred Sutter e Carlos Scherr. Repassava-lhe os assuntos e ele escolhia o que pautar. Me divertia o fato de seu talão de cheques ser as laudas. Ele ia anotando nas folhas do talão as informações, em letrinhas miúdas, e não raro o talão era consumido inteiro. Dono de uma memória prodigiosa nunca me ligou para confirmar dados. Os guardava, todos, com precisão e acuidade. Não raro também me surpreendia com o assunto pautado numa matéria de capa produzida nos quatros cantos do país e com repercussões inesquecíveis. Me ligava para comentar e perguntava se havia algo que não correspondesse à verdade. Isso nunca.

Viajante inveterado aos lugares da moda no mundo no final do Século XX , tal como Ibiza e Mykonos, nos divertíamos em seu regresso com histórias engraçadas e inacreditáveis. Elegante no trato, inteligente no comportamento e na prosa, conseguiu a proeza de ser amigo, amado, de suas ex-mulheres. Eu, particularmente fui testemunha do amor, da amizade e do respeito que ele nutria pela fotografa Elzinha Barroso, sua parceira existencial e profissional por inspiradas décadas. Um pouco desse amor ele brindou não só a mim como aos meus filhos em nossas frutuosas tardes de domingo.

Foi-se o Micha. Poupou a todos de sua dor no seu sofrimento, recluso, na cidade de Ouro Preto em casa de uma de suas ex-mulheres.

Vai Micha, vai ser Redator no céu, ao lado do Fred Sutter, do Angelo de Aquino, do Marcos Paulo, e de uma legião de amigos que já partiram. A alegria ficou menor com sua partida.