30 de agosto de 2016

O CERRADO BRASILEIRO

Na prazeirosa leitura do livro de ficção cientifica escrito pelo advogado Odimer E. Nogueira ESTAÇÃO TERRA, publicado e lançado no Brasil pela Editora Kelps ( Goiania-GO 2013) o cerrado brasileiro está magistralmente assim descrito pelo autor na página 16:

-Vastíssima extensão de terras de apenas duas estações: a das águas, abundantes e regulares chuvas que ocorrem na maior parte do ano, é o que há de melhor para a atividade agrícola.

Esse fabuloso encanto é logo desfeito no parágrafo seguinte quando ele define:

-a outra, a estação seca, é propícia apenas às lamentações. Chega aos meados de todos os anos e castiga a região com tais rigores que parece apenas servir para separar no tempo dois períodos de muitas chuvas e farturas e mostrar aos viventes da região que nem tudo na vida é sempre igual. As pessoas bem acostumadas aos bons tempos, não se esquecem das benesses das águas quando chega a estiagem.

E a descrição prossegue destacando que a “atmosfera perde quase toda a umidade e o ar desértico, em alguns dias, de tão seco, arde nas ventas e nos olhos dos homens e animais. As pastagens, logo depois das últimas chuvas quando então se instala em definitivo a estiagem, se ressentem da falta de umidade que é agravada pelo vento frio e constante. Ressecam, perdem o verdor e absorvem tanta poeira nas folhagens que não mais servem para alimentar o gado”.

Diz ainda Odmer Nogueira em sua narrativa que “tal dicotomia climática transforma a seca na região num período de provações. Difícil para as pessoas, mais difícil ainda para os animais. E é também tempo de mistérios que favorece a manifestação das estranhas forças que de alguma forma afetam o viver das pessoas. Em alguns anos ocorrem chuvas esparsas e ocasionais em outros, porém a estiagem é absoluta”.

É neste cenário aonde ele desenvolve a trama de sua aventura científica muito bem narrada no livro. Também é no cerrado onde se dá as mais altas taxas de produtividade agrícola do mundo.

Esta característica geográfica, única, se espalha por uma vasta região no centro-oeste do Brasil abrangendo os estados (uns mais outros menos) de Mato Grosso, Minas Gerais, Goiás, Tocantins, Maranhão, Bahia e o estado do Piauí. Apesar dessa uniformidade esses estados possuem, cada um, situações climáticas diversas abrangendo regiões de secas, caatingas, ignorância, analfabetismo, doenças e pobreza extremas. Alternam calor e frio criando uma realidade inconcebível para a riqueza que produzem. Ao todo são mais de 200 milhões de hectares, abrangendo 337 municípios e 31 microrregiões, segundo a EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuária).

A maior área produtiva está no Mato Grosso, onde se planta atualmente (2014) cerca de 11 milhões de hectares de grãos (soja, milho, feijão, algodão basicamente). Em seguida vem Goiás com 5,5 milhões de hectares, Mato Grosso do Sul, com cerca de 4 milhões de hectares, oeste baiano e cerrados mineiros com 3 milhões de hectares cada um. Além de grãos o cerrado detém as maiores áreas de pastagens plantadas e respectivos rebanhos do Brasil, além de áreas de reserva, estradas, cidades e vilas. Merece destaque o oeste da Bahia.

Tudo isso hoje é possível graças a um visionário mineiro oriundo da Faculdade de Agricultura de Lavras e que foi Ministro da Agricultura no governo Geisel (1974-1979) Alysson Paulinelli. Ele sonhou em desenvolver o cerrado e para isso não poupou esforços, nem dinheiro. Dotado de uma capacidade de trabalho sem igual e forrado de conhecimentos técnicos sem precedentes, dedicou-se com afinco a plantar as raízes que hoje fazem do Brasil um dos maiores celeiros de produção agropecuária mundial.

Há trinta anos o oeste baiano era um campo estéril e despovoado. Com pouco mais de 8 milhões de hectares, é a nova deslumbrante fronteira agrícola brasileira, área esta um pouco menor que a área total do Estado de Pernambuco que possui 9,9 milhões de hectares. Para se ter uma ideia o Estado da Paraíba possui área total de 5,6 milhões de hectares e o do Rio de Janeiro 4,3 milhões hectares. Também conhecida como Alto São Francisco ou Além São Francisco , esse Oeste baiano está na margem esquerda do rio São Francisco e seus afluentes jamais secam. Isto porque as terras estão sob o aquífero URUCUIA, também uma das maiores reservas de água doce conhecidas no mundo.

Segundo a Advogada e pesquisador Hetilene Gomes , pernambucana radicada no Estado do Rio de Janeiro,

“ as terras da margem esquerda do rio São Francisco, onde hoje está o novo Eldorado brasileiro da soja, pertencia à capitania de Pernambuco que perdeu a posse para a Bahia por um Decreto- provisório - de vingança de D. João VI. Vingança por causa da Revolução Republicana de 1817, incitada por bravos pernambucanos. Mais tarde D. Pedro I para punir Pernambuco em função da Revolução de 1824 (Confederação do Equador) liderada por Frei Caneca mantém a espoliação das terras dando início à rivalidade entre baianos e pernambucanos. Para Pernambuco as terras não voltaram jamais.

7 de agosto de 2016

ALYSSON PAULINELLI

Ele está fazendo 80 anos. Poucos brasileiros sabem quem é ele. Mas este senhor é respeitado no mundo inteiro. Foi capa da revista Time com 35 anos de idade e até hoje viaja pelo mundo, da China à Patagônia, de Tóquio a Nova York, convidado que é para palestras nas mais respeitadas universidades do globo e nos mais competitivos centros de negócios. Anda por aí falando sobre seu invento, repassando conhecimentos e satisfazendo a curiosidade cientifica sobre a alta produtividade da agricultura brasileira, principalmente no cerrado. Visionário, desenvolveu técnicas numa época em que o conhecimento não desfrutava dos imensos recursos tecnológicos de hoje. Por onde passa é saudado com reverencia e respeito. O mundo tecnológico lhe credita uma façanha que no Brasil só é conhecida pelo setor agrícola: o aproveitamento do cerrado brasileiro para a produção agropecuária.

Paulinelli descobriu os caminhos para fertiliza-las através de calagem e fosfatagem. Hoje, o cerrado brasileiro distingue-se por uma produção de riqueza extraordinária, aplicação de alta tecnologia e produtividade sem comparação no mundo moderno quando se trata de produção de grãos irrigados. Nem mesmo os grandes produtores mundiais, detentores das tecnologias inovadoras para o campo, como Estados Unidos, Austrália e Canadá conseguem se igualar à produtividade do cerrado brasileiro, especialmente no oeste da Bahia. Para lá acorrem americanos, ingleses, neozelandeses, canadenses, japoneses e brasileiros audaciosos e trabalhadores. Juntos, são responsáveis por cerca de 50% cento do PIB agrícola (grãos) do Brasil. E todos, uníssonos, agradecem a um homem: o mineiro que um dia foi ministro da agricultura e vislumbrou que esta epopeia seria possível.

Alysson Paulinelli é nascido em Bambuí (10/06/1936) e foi ministro da agricultura (1974-1979). Oriundo da Faculdade de Agronomia de Lavras, atual Universidade Federal de Lavras, interior de Minas Gerais, Foi um menino pobre, estudou com dificuldade e para terminar seus estudos dava aula na própria faculdade com 22 anos de idade. Seu pai era agrônomo e pequeno sitiante, portanto era de classe média baixa, como se classificava na época. Destacou-se e virou Secretário de Agricultura do Governo de Minas Gerais no comecinho dos anos 70 do Século passado. Ele está para o agronegócio brasileiro como esteve os americanos o Gran Bell (inventor do telefone), Thomaz Edison (inventor da eletricidade) Ford (inventor do automóvel) e o italiano Marconi (inventor do Rádio) para seus países. Estes senhores passaram para a história não só porque contribuíram com seus inventos para o desenvolvimento da humanidade, mais também porque viveram o suficiente para impulsionarem suas criações e explorarem comercialmente o que foi inventado. É certo que viraram grandes capitães de indústria. No caso do Paulinelli pode-se considerar uma história maior, mais brilhante e mais gloriosa. Seu invento foi distribuído gratuitamente e hoje serve a milhões de brasileiros, no campo. O produto gerado é exportado para o mundo inteiro gerando divisas para o país, receita e tecnologia para o agronegócio.

A esse mineiro baixinho, de olhos atentos e brilhantes, devemos essa infinita realidade de desenvolvimento e produtividade agropecuária do país. Do ponto de vista cientifico ele é o brasileiro mais importante de sua época. Em 1971, do século passado, foi escolhido Secretário de Agricultura do Estado de Minas Gerais. Lá criou o Projeto Jaíba, hoje um centro de produção e exportação de produtos agrícolas onde antes não havia nada além da fome, da inanição, da ociosidade e terras inaproveitáveis. Ali Paulineli descobriu o cerrado. Descobriu, estudou, se encantou e desenvolveu. Nas palavras de seu braço direito em todos esses anos, o admirável economista mineiro Nuno Casassanta, “ a calagem, aplicação de calcário, já era conhecida, mas era olhada com desconfiança pelos produtores para recuperar os solos de cerrado. O Paulinelli com ideias arrojadas e uma invejável disposição de trabalho e capacidade de convencimento conseguiu articular programas que mostraram sua viabilidade. Começou com os projetos integrados em que o Estado de Minas Gerais entrava com assistência técnica, financiamento via Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais, o BDMG, mecanização agrícola, armazéns e estímulos à montagem de usinas fabricantes de calcário. Diante do sucesso buscou-se escala através da participação de cooperativas que fizeram uma colonização moderna em amplas áreas do cerrado mineiro. Essa iniciativa levou à criação do PoloCentro, o programa de desenvolvimento que estabeleceu as bases da revolução agrícola.

Casassanta recorda-se também da revolução no setor cafeeiro: "no meio de uma enorme crise e num ambiente de erradicação trabalhou o Paulineli pela renovação dos cafezais em novas bases tecnológicas. O Estado de Minas Gerais desde então produz cinquenta por cento do café brasileiro. E o reflorestamento? A Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias) criada por ele já no governo federal, no seu nascedouro recebeu uma formidável dose de apoio que significou o maior programa de treinamento já executado no país. Aplicava-se um bilhão de dólares por ano nisso. Para muitos uma loucura. Mas deu certo e a EMBRAPA hoje é orgulho brasileiro, continental, científico. A instituição é uma academia de alto nível sem padrão de comparação. O Brasil é sucesso na agropecuária graças ao conhecimento e a crença dos produtores na ciência que juntos se criou “, finaliza.

Formou uma equipe de excelência composta, entre outros por economistas, agrônomos, administradores e professores que o acompanharam em toda a sua brilhante carreira. Entre estes estava Paulo Afonso Romano, seu Vice-Ministro que negociou, implantou e dirigiu a CAMPO, uma binacional agrícola Brasil-Japão, empresa pioneira com capital internacional destinado exclusivamente à exploração do cerrado, Antônio Lício que por sua excepcional formação integrou outros governos e ainda hoje é um grande consultor internacional, Francisco Reynaldo Amorim de Barros, oriundo da Fundação Getúlio Vargas, Alceu Sanches, Eduardo Campelo, Raul Vale, Eliseu Alves, Lourenço Vieira da Silva, José Carlos Pedreira de Freitas, Eustáquio Costa, Paulo Cota, Silvestre Gorgulho, Joaquim Campelo , Alex Gonçalves dos Santos, Sá Martins e muitos outros. Paulinelli foi também Presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA) Secretário de Agricultura de Minas Gerais por duas vezes e Deputado Federal, inclusive constituinte.