28 de novembro de 2016

OS INFINITESIMAIS E A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL

Sempre causou espanto o fato de países como Itália, Espanha e Portugal terem perdido o bonde da revolução industrial no Século XVII. Após a formação da Europa por Carlos Magno, no Século VII, a Itália com suas cidades estados ( ducados, principados e republicas) que nada mais eram que feudos familiares, e sob a proteção do Vaticano, liderou o movimento renascentista dando uma significava contribuição cultural à nossa civilização.

Isso durou até o Século XIV, quando Portugal, Espanha e Holanda viriam a transformar o mundo que conhecemos através da navegação. A Itália ficou de fora. O conhecimento, a tecnologia e a aventura estavam se inserindo nesses países longe das convicções da Igreja e independente do Vaticano. Vieram as grandes descobertas, do Século XIV até o XVII e esses três países foram os primeiros e grandes responsáveis pela descoberta do novo mundo. O Poder da Igreja era imenso e ela não podia ficar de fora. Daí foi incorporada aos descobrimentos. Não pela inteligência, mas sim pela fé. Pelo menos essa fé aqui referida.

Roma se contentou em ficar de fora do naco das descobertas desde que os desbravadores levassem a reboque os catequizadores do Vaticano. E assim foi, no princípio. Desta forma a Companhia de Jesus fundada por Ignácio de Loyola se instalou da China à Patagonia. Depois vieram outras ordens religiosas. Esse movimento ampliou como nunca a mensagem da Igreja Católica e do cristianismo. Mas a Itália, como Estado, ficou fora do poder das descobertas pela navegação.

Tudo começa com a ação de Galileu. Costuma-se dizer que a fé remove montanhas. Não só. Obstrui e trava o desenvolvimento também. Pelo menos essa fé aqui referida. Assim foi com os infinitesimais. Expulsos e perseguidos na esfera do catolicismo, na diáspora foram acolhidos por países como Inglaterra, Holanda e Alemanha, no Século XVII. Levaram seus conhecimentos para a esfera do protestantismo e das igrejas ortodoxas, possibilitando, principalmente à Inglaterra a criação da Royal Academia de Ciências, em Londres, e liderar a Revolução Industrial, além de sepultar para até nossos dias o poder e glória desses estados que impulsionaram a navegação.

Somente sob a luz dos estudos dos infinitesimais se entende como, principalmente Portugal e Espanha, saíram da linha de frente do conhecimento para mergulharem na escuridão humana e tecnológica. Foram grandes pela inovação. Se tornaram pequenos por sucumbirem à convicção da fé católica e dos dogmas da Igreja e por dizimarem dezenas de civilizações indígenas e junto culturas milenares dos povos que habitavam esse novo mundo.

Isso e muito mais está no profundamente pesquisado e descrito livro Infinitesimal- A teoria matemática que mudou o mundo, do americano Amir Alexander ( editora ZAHAR -2014 ) www.zahar.com.br

Infinitesimais é a definição pela qual ficaram conhecidos o italiano Galileu e seus discípulos. Galileu foi excomungado, banido e asilado por ordens da Igreja. Seus apaixonados alunos e seguidores se espalharam pelos países protestantes e católicos ortodoxos onde puderam ficar longe das garras do Vaticano e proporcionar, principalmente à Inglaterra, a glória de liderar a Revolução Industrial.

Esse caminho foi aberto pelo Rei inglês Henrique VIII (1491- 1547) que viu na contra-reforma, o movimento do renascer católico e do luteranismo ( como ficou conhecida as verdades do monge agostiniano Martinho Lutero-1483-1546 o alemão que com suas 95 teses pregadas na porta da igreja do castelo de Wittenberg, na Alemanha em 1517 daria inicio ao ciclo do protestantismo) a grande chance de se livrar de Roma.

Infinitesimal é a teoria pela qual se exprime a doutrina dos indivisíveis que afirma que toda reta é composta de uma sequencia de pontos, ou os “indivisíveis” que são os blocos de construção da reta e que não podem eles mesmos serem divididos. Assim está descrito na página 15 do livro.

Galileu ao afirmar que a terra era redonda e girava em torno do sol, em sua descoberta revelava o que havia estudado na obra de Euclides o pai da matemática e da geometria , o sírio que estudou e lecionou na cidade de Alexandria provavelmente no Século III antes de Cristo e escreveu OS ELEMENTOS o livro com 13 volumes considerado pelos especialistas como o mais influente da história.

Nele Euclides contempla a descoberta dos princípios da ciência óptica, acústica, consonância e dissonância, esses o primeiro tratado conhecido sobre harmonia musical. Contemplou estudos sobre mecânica, som, luz, navegação, ciência atômica, biologia e medicina , possibilitando o nascimento e a evolução da ciência e da tecnologia. Estudou também Pitágoras ( 495 AC) e Eudoxo de Cnido ( astrônomo 408-355 a.C.) geografia na obra de Ptolomeu ( nascido nos anos 90 a.C. falecido por volta de 168 a.C e escreveu treze livros sobre Astronomia, Geometria e Trigonometria) Aristarco de Samus ( 310-250 a.C) Scarabosco ( professor de astronomia na Universidade de Paris até 1256) e o astrônomo polonês Copérnico ( 1385–1569 ) seu contemporâneo e também, amigo do papa Urbano VIII. Todos estudaram também Aristóteles o filosofo e cientista grego ( 322-384 a.C.)

O conjunto desses conhecimentos possibilitou a Galileu Galilei, nascido em Pisa ( 1564) formar uma escola com inúmeros discípulos e inaugurar uma nova era do conhecimento. Em 1.623, foi apoiado pelo Cardeal Maffeo Barberini, seu amigo e Papa Urbano VIII que se alinhava entre seus seguidores. Até 1.631 prosperou uma era de ouro, liberal, em Roma, sob a ascendência galileana. Dali esses conhecimentos foram levados para as escolas da recém-fundada Companhia de Jesus, criada por Inagcio de Loyola e já naquela época uma excelência no ensino. A Companhia passou a ser dirigida por outro matemático, amigo de Galileu, chamado Cristóvão Clávio (1538-1612) que introduziu o ensino e discussões matemáticas no currículo escolar. A exatidão matemática negava Deus. Acreditava a Igreja Católica.

Com a morte desses personagens vieram os contestadores. A Companhia de Jesus venceu. Alegavam que esses ensinamentos confrontavam a verdade inquestionável sobre a existência de Deus, a única verdade absoluta que deveria ser permitida na terra. A fé e a matemática se confrontaram.

Galileu foi afastado e morreu só, no desterro, na cidade de Arcetti aos 77 anos. Seu corpo, por ironia, repousa num alaúde que é uma obra de arte na Igreja de Santa Croce em Florença,Itália. Seus discípulos e amigos que professavam sua ciência, para não serem alcançados pelos braços do Vaticano fugiram da Itália. Foi a maior fuga de cérebros que se viu até a segunda guerra mundial.

Foram acolhidos pela Inglaterra, Alemanha, Áustria, Holanda, Suécia e alguns outros países fora da influencia de Roma. Ganharam o jogo do conhecimento com o advento da Revolução Industrial liderada pela Inglaterra. A Companhia de Jesus seguiu seu caminho evangelizando povos, sem as verdades da geometria e da matemática. O resultado todos nós conhecemos, principalmente os latinos.

O livro é um primor. Toda essa glória e desventura vem acompanhadas de detalhes da evolução da ciência e dos personagens que gravitaram e fizeram a história. Há também um detalhado epílogo biográfico que serve a curiosos e estudiosos evidenciando um afinco respeitável nas pesquisas históricas. Vale muito a leitura.

5 de novembro de 2016

OS JORNAIS ESTÃO MORRENDO

Mês passado (outubro de 2016) fui acordado por uma voz dizendo-se jornalista Lauro Jardim. Por três vezes, em dias diferentes. Nas duas primeiras desliguei. Atendi na terceira vez:

- Oi. Aqui é o Lauro Jardim. Notei que você cancelou sua assinatura de O Globo......

Só aí ficou claro para mim a gravação e seu objetivo: vender assinatura do jornal. É a primeira vez que vejo jornalista vendendo o jornal que trabalha. É uma inovação, sem dúvida. Revela um anunciante atento mas evidencia falhas na trajetória de venda do produto. Faz anos que sou bombardeado por outras vozes, de funcionários ou não, do jornal, tentando vender assinaturas.

É dramática a situação da mídia impressa no Brasil. Existem informações de fechamentos de jornais impressos numa velocidade preocupante. Estima-se em três por dia no país à fora. As causas são Internet, custos de produção e infraestrutura cada vez mais altos, despreparo dos donos para lidar com uma nova realidade e um modelo de negócio totalmente ultrapassado. Não é só no Brasil. É no mundo inteiro. E no jornal O Globo não é diferente. Logo teremos novidades por lá.

Assim como a veiculação encontrou fórmulas modernas para tentar incrementar a circulação, provavelmente os outros colunistas do jornal também gravaram mensagens de vendas, estes ventos criativos precisavam soprar nas redações. Não só de O Globo, mas em todos os jornais do país.

Chama atenção que eles morrem dentro de velhas fórmulas. Não ousam e não inovam atrelados a um modelo de redação superado que não consegue atrair novos leitores e tampouco manter os velhos. Vão definhando aos poucos. Permanecem atrelados ao modelo de redação dos anos 40 do século passado. Não prestam a menor atenção nas novas gerações cujas formas de expressões e linguagem sofreram alterações profundas. Até mesmo a maneira como se apresentam as notícias mudou. Os jornais permanecem no mundo do passado. Não dá para competir com a linguagem digital. Nesta, o que não é importante fica reduzido a pouquíssimas palavras e é definido em poucos dígitos. O que é importante tem uma incrível forma e trajetória que interessa e é lido e visto por milhões. Até mesmo as notícias que saem nos jornais, na linguagem digital adquirem outro formato. O jornal impresso ao invés de incluir-se nesse novo mundo afastou-se. E pior: burramente criou barreiras de acesso para suas versões digitais. Se isso não basta, trataram de levar para a tela do computador o mesmo modelo impresso. É muita falta de criatividade mesmo.

O caso de O Globo é exemplar. Interessantes apenas as manchetes. Colunas pesadas, com raciocínios tortuosos e longos. Matérias sem objetividade e muitas vezes com textos escaldados e sem conteúdo relevante. Na página de opinião e nos artigos temáticos a maioria dos autores apenas justificam posições em busca de seus caminhos. Textos inconsequentes, em sua maioria. Não defendem ideias e projetos. Justificam posições em arrazoados desinteressantes e inócuos. Pior que o press release. Fazem lob ou justificam-se perante seus nichos. Não há pautas que os tornem atraentes. São poucos aqueles que realmente atraem pela atualidade e textos objetivos. E estes é que seguram o jornal.

Colunas diversas e todas tratando de frivolidades. Inclusive na política. O retrato fiel da política brasileira são algumas colunas de O Globo: piadas. Uma imensa estrutura de produção de conteúdo, com gente talentosa, mas desinteressante. Em dez, doze notas, escapam duas ou três com densidade. No caso das colunas até se entende, mas não justifica.

Causa espanto os acontecimentos recentes em Brasília quando uma maré de jornalistas foi incapaz de relatar com fidelidade o clima do impeachment. Todos se dizem bem informados. Mas ninguém é capaz de explicar como um exército de profissionais não foi capaz de antecipar aos seus leitores o segredo que mais da metade do Congresso Nacional sabia: o fatiamento do processo de cassação da ex-presidente Dilma. Esquecem que são bem relacionados apenas para servir ao leitor. Em plena era da informação os jornais prestam cada vez menos serviços e informam menos. A realidade se encarrega de informar melhor, de ser mais rápida e sem barreiras. A internet que o diga.

Os leitores perdem o interesse, a publicidade foge. Para se financiarem os grandes jornais partem para a publicidade de patrocínio. É quando determinadas marcas aparecem junto aos textos de determinadas coberturas. Mas o leitor imagina e sabe que este modelo não favorece a independência e a isenção necessárias.

Governos e suas marcas também são generosos no financiamento desta prática. Mas o que resulta daí vem mofado, insosso, suspeito, quando não comprometido mesmo